Em defesa dos feriadões

Há quem reclame do que dizem ser excesso de feriados no país. Na verdade, não é bem assim. A queixa maior vem, inevitavelmente, das chamadas classes produtoras, como se, na verdade, não fossem – todas as classes sociais – produtoras de bens. A diferença está no que produzem e no objetivo que buscam. Mas essa é outra conversa.

Nos Estados Unidos – o mais capitalista de todos os países do mundo (precisando tomar cuidado com os requebros da China) – os feriados são, também, numerosos. E ninguém reclama, pois já se aprendeu, por lá, que há sempre vantagens para todos. A questão, no Brasil, é que o trabalho continua sendo um problema. As relações capital/trabalho não foram, ainda, justamente estabelecidas. E, por outro lado, trabalhar – por uma colonização cultural secular – nunca foi virtude a ser cultuada por descendentes das capitanias hereditárias. Onde houve trabalho escravo, sempre sobrarão resquícios de casa grande e senzala, de servo e de feitor. Todo trabalhador brasileiro tem algo de servo. E qualquer gerente de qualquer coisa carrega, consigo, o DNA de um feitor.

A pergunta, penso eu, que cada um de nós deveria fazer-se é a respeito do próprio trabalho. Do porquê e do para quê estar trabalhando tanto, pois se tornou um exagero quase suicida o número de horas e a variedade de empregos ou atividades que as pessoas dedicam ao trabalho. É como se fosse uma fuga. Trabalha-se, muitas vezes, por vício, por hábito, por necessidade de fazer algo para substituir o que parece o vazio do nada fazer. Vai daí que, há alguns anos – e enxergando profeticamente a mudança dos tempos – Domenico De Masi nos alertou para a importância do “ócio produtivo”.

Quando se aproxima o final do ano, as fisionomias das pessoas revelam o nível de estresse e de cansaço físico e mental de que estão possuídas. É um cansaço coletivo. E uma perplexidade geral. E mais: como que uma hipnose, uma anestesia, um robotismo que impede a capacidade mais preciosa do ser humano, que é a de pensar e de refletir. Ora, afinal de contas, atrás de quê as multidões estão correndo? E para quê? Qual a verdadeira recompensa que buscam, a não ser ganhar mais dinheiro – que, aliás, irá servir apenas para pagar mais contas – ?

Os franceses, já no século 19, provaram ao mundo uma preciosidade que fora esquecida por muitos séculos: “l’art de vivre”. Pois é a grande verdade: viver é uma arte. Que, se não for cultivada e compreendida em seu verdadeiro e mais nobre sentido, se transforma num massacre, dando razão àquela prece melancólica e amarga do “vale de lágrimas”. Feriadões são importantes, sim. E necessários. Desde, porém, que as pessoas saibam aproveitá-lo no sentido de um verdadeiro descanso, do relaxamento, do desligamento das loucuras suicidas desse cotidiano absolutamente estúpido que criamos. Ou que foi criado para nós, escravos de um estilo de vida – o do consumismo – que traz apenas decepções, amarguras, vazios maiores e desilusões. O “ócio produtivo” é aquele que nos enriquece com as horas mais livres que os meios das novas tecnologias deveriam nos dar. Deram-nos. Mas os aproveitamos, tolamente, para trabalhar mais e inutilmente. Bom dia.

1 comentário

  1. Linneu Stipp em 14/11/2012 às 14:56

    Seu Cecilio

    Faz tempo que não demonstro minha capacidade literaria, escrevendo minguadas linhas, com o intuito também de cumprimentar o caro sobrinho.

    Eu pessoalmente, acho , nos meus 76 anos, que devo começar os feriadões em uma segunda -feira, e terminá-los na seguinte…

    Mas mesmo assim, não resisto, continuo trabalhando….

    Da capital da Provincia,

    Linneu José Libório Stipp

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