Enganando bobo na casca do ovo

thumb          Não existe a decantada divulgação gratuita do horário eleitoral em emissoras de rádio e tevê. É o Estado que paga. Logo, é o próprio povo quem arca com as despesas – através de tributos –  dessa farsa oficial. E – convenhamos! – o que pode ser mais estúpido do que pagar para ser enganado? Ou há, ainda, quem acredite em promessas e compromissos de políticos profissionais? E, ainda outra vez, insisto: não mais se fale em exceções, pois estas, de tão raras, nada representam.

Há poucos dias, em entrevista a uma rede de televisão, Aécio Neves gaguejou, titubeou, tateou e não respondeu à simples pergunta que lhe foi feita: “Se eleito, o senhor irá aumentar impostos?” Se ele o admitisse, estaria crucificado pela chamada opinião pública. Se o negasse, seria chamado de mentiroso e farsante ao depois. Então, dissimulou. Política é essa arte de simular e de dissimular. Logo, os programas políticos em rádio e televisão nada mais são do que o exercício e a prática da simulação e da dissimulação.

Quando da ditadura militar, os protestos dos eleitores eram indignados por – nesse horário eleitoral – os partidos políticos poderem apresentar apenas uma fotozinha do candidato e um pequenino currículo. Pareciam bonequinhos. A plateia queria movimento, cores, espetáculo – tudo em nome da liberdade de expressão. Ninguém, à época, imaginava que as agências publicitárias já tinham adquirido a extraordinária capacidade de transformar candidatos em produtos, vendendo-os com embalagens iguais às de sabonetes. Os bonequinhos da ditadura sumiram e, no lugar dele, surgiram os bonecos de luxo, em cores e em movimento, dos marqueteiros.

Votar, atualmente, tornou-se uma obrigação idiota e farsante. Não se trata mais nem de direito, nem de dever. Somos levados a votar em candidatos previamente escolhidos  por partidos sem qualquer projeto de governo, sem qualquer alicerce ideológico, sem qualquer compromisso verdadeiro com a população. Na verdade, não votamos! Apenas vamos às urnas, para coonestar a antecipada escolha dos donos das agremiações políticas. As alianças que políticos se fazem entre si – as mais absurdas, mais paradoxais – são testemunho vivo e concreto da grande farsa que, periodicamente, nos é apresentada para que a confirmemos. Coonestar nada mais é do que fazer aparentar honestidade. Logo, ao votar,  coonestamos.

Os partidos políticos – através de seus caciques e donos – não escolhem os melhores, mas os mais populares. Jamais se preocupam com qualidade, famintos que estão e são por quantidade. Dessa forma, chega a ser injusto criticarmos candidatos, quase todos eles usados pelos seus caciques. A crítica a ser feita, o protesto a ser enfatizado, a revolução pacífica a ser desenvolvida devem voltar-se, na verdade, ao sistema político-partidário, às estruturas político-eleitorais, contra o vício da forma da representação política.

Ora, isso é tão óbvio que quase todos sabemos. No entanto, o galinheiro de Brasília está nas mãos das raposas e estas são muito espertas para abrir mão de seus banquetes. E será idiotice querer mudar essa estrutura à força, com movimentos violentos. A reação tem que ser consciente, de baixo para cima, deixando de votar por obrigação e exigindo que o voto seja um direito verdadeiro e não uma farsa, um dever cívico e não a coonestação de uma farsa.

Assistir a programas eleitorais é, em meu entender, aceitar ser cúmplice de uma palhaçada que – em nome do civismo e da Pátria – tenta imbecilizar o povo brasileiro. Bom seria se – diante desses candidatos – ouvíssemos, pelo menos uma única vez, o protesto de Samuel Johnson: “O patriotismo é o último refúgio dos canalhas.” Bom dia.

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