Esbanjamento de comidas

Comida 2Certa vez, parado com o carro à porta de uma padaria, vi, à noite, uma quantidade enorme de sacos plásticos, uns ao lado de outros e também empilhados. Pensei fosse lixo e, mesmo assim, pareceu-me lixo demais. Foi, então, que apareceu o caminhão dos lixeiros e me dei conta do que era aquilo: eram sacos de pães, enormes e muitos sacos de pães, sobra do que não fora vendido pela padaria, os tais “pães amanhecidos”. Confirmei com os lixeiros: eram mesmo pães e aquilo se repetia todas as noites.

Lembrei-me do que me ocorrera, uma vez, num restaurante em São Paulo. Eu pedira, para jantar, um franguinho frito, a passarinho. Mas a quantidade fora maior do que, sozinho, eu poderia comer. E ali estava, na travessa, quase um frango inteiro. Chamei o garçom, meu amigo, e lhe disse que eu sequer tocara no frango, se ele não queria levá-lo para sua casa, já início de madrugada. Ele me respondeu que não poderia, porque o patrão proibia os empregados de se beneficiarem das sobras de comida.

E, outra vez, foi no “Mediterrânée Rio das Pedras”, perto de Angra dos Reis. A maior ofensa, em matéria de esbanjamento de comida, que jamais

vi em minha vida. Uma ofensa tão grande que eu mesmo não conseguia comer, tal o esbanjamento, tal a indignidade, aquela de clamar aos céus. O que ficava nas travessas, intocado pelos hóspedes, era ostensivamente jogado num incinerador: peças inteiras de carnes, de frutos do mar, de pães de todos os tipos e qualidade. Se se abria uma garrafa de vinho e tomava-se apenas um golezinho dele, o restante da garrafa era despejado em uma tina. Ostensivamente, como a mostrar, em orgulho pecaminoso, que “aqui não se aproveitam as sobras” – uma ofensa à própria humanidade.

E as pessoas passando fome, milhares delas, milhões.

E esse esbanjamento também ocorre em nossas casas. Não com restos de comida, aqueles que ficam nos pratos. Mas as sobras, nas tigelas, nas terrinas, que terminam nas latas de lixo. Já pensaram quantas centenas para não dizermos milhares de famílias seriam ricamente alimentadas com o que jogamos no lixo? Essa é uma ideia que me martiriza, que se me vai tornando obsessão.

Os movimentos religiosos, filantrópicos, beneficentes, se se organizassem, talvez pudessem – criando um sistema de coleta em residências, restaurantes, padarias – alimentar centenas e centenas de famílias famintas. De comida limpa, saudável, higiênica. Que tem ido para o lixo. Ou isso é besteira? Bom Dia.

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