Falta de visão ou de vontade política?

Corredor de ônibusPoucos ainda se lembram, mas Luciano Guidotti foi o maior visionário que Piracicaba teve, na Prefeitura, no pós-guerra. Grandes homens, sempre os tivemos. E alguns deles – ainda no Império – enxergaram além de seu tempo. O plano de arruamento da cidade – idealizado pelo Senador Vergueiro e executado pelo Alferes José Caetano – mostra, à perfeição, a regularidade dos quarteirões centrais, das esquinas sextavadas que facilitavam o contorno dos carroções de bois, charretes. Não conseguiram, no entanto, prever os veículos motorizados. E, muito menos, carrões imensos e ridículos, ônibus, caminhões.

Na República Velha, Paulo de Moraes Barros – sobrinho de Prudente – fez com que Piracicaba se transformasse em exemplo de administração pública. E a revolução desenvolvida por Luiz de Queiroz, por Mário Dedini, pelos barões de Serra Negra e de Rezende? Eram, também, visionários cada qual a seu tempo. E não nos esqueçamos: visionário não é apenas o que tem visões, mas, também, o clarividente. E clarividência é ver com lucidez.

Pois bem. Luciano foi o homem que rasgou avenidas, realizando obras tidas como quase impossíveis, como a cobertura do riacho Itapeva para transformá-la na Avenida Armando de Salles Oliveira. (Aliás, quantos sabem que, sob aquela formidável avenida, corre um riacho, o sempre querido Itapeva, a “pedra chata”, em tupi-guarani? ) O arrojo de Luciano – que cometeu, também, muitos erros e chegou a ser arbitrário demais – chegou ao ponto de declarar de utilidade pública praticamente todo o lado direito da rua Moraes Barros. Para efeito de desapropriação e,então, construir um grande viaduto que iria da rua Governador até o Largo Bom Jesus, com pistas duplas. Ele enxergou que a solução estava “por cima”.

Agora – volto a repetir e a insistir – o trânsito, a mobilidade urbana de Piracicaba não têm mais solução, por não mais admitir paliativos ou quebra-galhos. Solução haverá quando dirigentes lúcidos e corajosos assumirem lucidez e vontade políticas para buscar e encontrar novas formas de resolução. Ora, a Prefeitura solta rojões porque promete fazer “corredores para ônibus e aumentar o número deles e a qualidade.” Mas como criar corredores? Onde? Não há como ou porquê ampliar avenidas. “Corredores” irão, apenas – por falta de espaço – aumentar o caos e produzir engarrafamentos homéricos.

A coragem e a visão políticas exigiriam ações radicais. O transporte particular não pode prevalecer sobre o transporte público. A comunidade está acima do individualismo. Não resta, penso eu, como solução final – custosa e para daqui a muitos anos – senão as vias aéreas, pois Piracicaba perdeu todos os planejamentos anteriormente feitos. Por que , então – até que essa solução quase impossível venha a acontecer – não se mexe no bolso dos que usam, muitas vezes tolamente, carros particulares? Rodízio de automóveis em dias pares e ímpares, cobrança de pedágio no centro da cidade e outras regiões mais densamente atingidas, subsídios a táxis para baratear corridas, uso de motos com cabinas para passageiros, como havia antigamente?

Na realidade, o maior problema tem nome: educação, civilidade. Por incrível que pareça, será preciso reeducar a população para a convivência harmoniosa, para o sentido comunitário, para a extinção do individualismo egoístico. Lembro-me de que, ainda em 1942, o então prefeito nomeado, Jorge Pacheco e Chaves, falou de seu propósito de governo: “É preciso civilizar Piracicaba.” Perdemos o que aprendemos. É preciso civilizar novamente. E, até para isso, há que ter visão e coragem políticas. Bom dia.

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