Faltaram Gatão e Idiarte

picture (21)Nunca foi fácil escrever sob forte emoção. E, muito menos, quando o sentimento é de perda, de decepção, de tristeza. O XV de Piracicaba faz parte da alma piracicabana e a torcida quinzista mostrou toda a força desse amor, numa demonstração admirável de como a paixão pelo Nhô Quim brota de nossos corações, algo que se aproxima de nossos vínculos umbilicais com o rio, com o hino, com a história.

A torcida merecia esse campeonato que seria, sem qualquer dúvida, a retomada de uma história quinzista feita de glórias, a recuperação de um passado que marcou os gramados piracicabanos de sangue, de suor e de lágrimas, hoje enterrados sob os pisos de um supermercado, a infâmia que se cometeu contra o templo do Nhô Quim, a o estádio da Rua Regente Feijó.

Não é fácil, pois, escrever debaixo de emoção, ainda mais com a dor de uma derrota que, pelo menos para mim, não aconteceu por acaso, não se deu por injustiça, não ocorreu por acidente. A torcida merecia mais, muito mais. Mas o XV mereceu perder, pois, como disse um dos valentes atletas de Soroca, “não se ganha antes do jogo e o XV entrou em campo de salto alto.”

O futebol – quem leu e estudou a notável obra de Huizinga, “Homo Ludens”, sabe disso – reflete, como jogo, o que há de mais apaixonante nas disputas da alma humana. É ciência e arte ao mesmo tempo, mas é jogo onde fatores fundamentais podem determinar resultados. E um deles é a vontade de vencer, a superação de si mesmo, o que conhemos como “raça”. Os jogadores do XV, tirante esta ou aquela exceção, não tiveram “raça”. Pareciam estar no campo à espera, apenas, de o juiz encerrar o espetáculo e lhes dar o título que, para eles, era como se estivesse ganho por antecipção. Não houve vibração, não houve força, não houve entusiasmo, mas um espetáculo deprimente de uma disputa de “salto alto”, humilhante para a grande torcida quinzista que carrega, ela mesma, a sua própria e grande história: a de nunca desistir.

Se me perguntarem o que faltou ao XV, não terei dúvida em responder, ainda que com o coração sangrando: faltaram Idiarte e Gatão, faltaram De Sordi e Chicão, faltaram o sangue, o suor, lágrimas e, também, trabalho nos noventa minutos de uma uma grande jornada que se tornou triste.

A torcida quinzista não merecia isso, uma derrota em que o XV perdeu para si mesmo, para um comportamento que esteve mais para um desfile de modas do que para uma partida decisiva, um momento histórico que, para os torcedores, era como que de vida ou morte: a ressurreição do XV ou a sua permanência no limbo.

Em futebol, em jogos, perder é contingência. Mas é preciso perder com luta, com garra, com paixão. A torcida do XV esperou por isso. E não aconteceu. A massa de torcedores quinzistas não mereceu, Piracicaba não mereceu. Mas os jogadores mereceram, sim, perder. Seria injusto se tivessem sido campeões de futebol quando pareceram estar em desfile de modelos. E agora? Confesso não saber, pois o mundo se transforma, são tempos novos e, por enquanto, muitos há que não se deram conta de que a competência e o mérito estão de volta, substituindo trabalhos feitos sem amor. É difícil desejar um bom dia, mas desejar bom dia é preciso. Bom dia.

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