Gijo e a Lua

Dentro de poucos dias, em 20 de julho, o mundo comemorará o 40º aniversário do dia histórico em que Neil Armstrong pisou na Lua. Não dá, com palavras, para narrar a emoção do acontecimento, o misto de alegria e de medo diante das imagens que nos chegavam pela televisão. Para os brasileiros, o fato se deu na madrugada. Lembro-me de que acordei minha mulher e minha filha Patrícia, então apenas com quatro anos, para testemunharem a maior das conquistas humanas até então. A menina olhou, nada entendeu, voltou a dormir em meu colo. E, de repente, uma angústia estranha me fechou o peito, como se tivéssemos nós, toda a humanidade, cometido alguma profanação grave, violando o sagrado. A Lua, tocada por Armstrong, deixava de ser dos poetas, dos sonhadores, dos ficcionistas, dos amantes, dos seresteiros. E uma realidade decepcionante se nos revelava: não havia, na Lua, nem dragão e nem São Jorge.

Demos, em O DIÁRIO, a notícia na mesma madrugada. E a emoção e a excitação eram tantas que não dormimos, vendo o dia chegar, os primeiros vagidos da manhã, o mundo perplexo com o acontecimento. Foi quando Gijo Furlan apareceu na redação, mal saíamos para tomar cafezinho no antigo Vosso Pão. Gijo nos interrompeu, furibundo. E, antes de continuar, apenas uma palavrinha sobre Gijo, o velho Gijo, o adorável Gijo. Funcionário da Prefeitura, Gijo tinha a esperteza de um jovem lépido e, ao mesmo tempo, a inocência de uma criança. Não se sabia se Gijo sofria das faculdades mentais se ele era um visionário que enxergava e entendia o que as pessoas ditas normais não viam e não compreendiam. Gijo era amado por todos, um dos tipos inesquecíveis de Piracicaba, figura folclórica e respeitada por sua honestidade ingênua, por sua doçura sem limites.

Então, Gijo, furioso, me abordou como diretor e dono do jornal: “Vocês mentiram, não podem fazer isso para o povo. Onde já se viu dizer que o homem chegou à Lua, que pisou na Lua? Isso é mentira das grossas, Deus não permitiria um absurdo desses.” Gijo exigia que desmentíssemos a notícia, enfurecido com jornalistas e comunicadores. Até o fim de seus dias, Gijo não acreditou que o homem tivesse chegado à Lua.

Ainda penso nisso, também assustado ao me dar conta de que lá se foram 40 anos. Eu tinha 29 anos quando isso aconteceu, o auge do idealismo, o esplendor de forças e de esperanças. Mas, ao lado da grande emoção e da sensação de vitória humana, a tomada de posse da Lua deixara um vazio inexplicável, um receio estranho, um medo escondido, como se o médico e o monstro se estivessem repetindo, como se Frankenstein fosse real. Na realidade, a conquista da ciência rompera, de maneira inexorável, algo mágico que era fundamental para a imaginação humana, a riqueza dos sonhos, a imensidão das fantasias.

Foi uma conquista e foi uma perda. Até hoje, não sei se ganhamos ou se perdemos por termos violado o mistério da Lua. Sei, apenas, que, ainda agora, vejo a Lua esplendorosa no céu e nem sequer me lembro de que, nela, já há rastros humanos. Vejo estrelas e nem sequer penso em satélites que as incomodam. O mundo perdeu encantos, mas eles permanecem no coração de quem os guarda. Bom dia.

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