Hora e vez de “pharmacêuticos”

Há pouquíssimos anos, um ilustre e já veterano médico piracicabano me perguntou: “Você sabe qual é o melhor médico de Piracicaba?” Hesitei, pois conheço e admiro muitos deles. Então, sorrindo, ele mesmo respondeu: “É o João Sachs” – referindo-se a um dos mais respeitados e queridos farmacêuticos da cidade, agora aposentado.

João Sachs foi um dos herdeiros dos velhos e generosos “pharmacêuticos” de nossa história, homens que responderam pela saúde da população num tempo de muitas carências. Pois eram poucos os médicos de Piracicaba, como que anjos protetores atuando na Santa Casa de Misericórdia ou no Centro de Saúde. Pronto Socorro era um sonho, o primeiro sendo criado pelo prefeito Salgot Castillon. As “pharmácias” eram centros nervosos de atendimento e de emergência.

Ao referir-me a médicos antigos, arrisco-me a cometer injustiças, pois escrevo ao correr da memória. Atenho-me aos de minha geração. Alguns deles eram verdadeiros sacerdotes, pode-se dizer que até mesmo missionários, pois corriam a zona rural atendendo, socorrendo. Os pobres sabiam ter quem os acolhesse. Pois lá estavam os médicos Samuel de Castro Neves, dr.Lula, dr.Corrêa, dr.Cêra, dr.Alfredinho, dr.Alarico Coury, dr.Meirelles, dr. Garboggini, dr.Consolmagno, dr.Caruso. – quantos mais?

As “pharmácias”, porém, eram o grande abrigo da população. Dr.Cêra e dr.Samuel tinham sido “pharmacêuticos”. E ninguém irá esquecer-se do Haldumont, o “Seo Tico da Pharmácia”, do Marafon, do Zezinho da Vila, do Caju, do Seo Canto, do Alan, do Jesus – pessoas maravilhosas que atendiam com generosidade fraterna. Não havia, quase, exames laboratoriais. Mas eles, como clínicos gerais por experiência, diagnosticavam enfermidades simples e até mesmo as mais graves. Machucaduras? Vá à “pharmácia”. Gripes, resfriados, catapora, sarampo? Vá à “pharmácia”. Fraqueza, tosse, rouquidão, anemia? Vá à “pharmácia”.

É monótono e repetitivo falar na grave situação da saúde brasileira. Postos, planos, convênios de Saúde estão soterrados pela demanda. Médicos são obrigados a atender com rapidez até mesmo temerária, pelo excesso de consultas. Mas quem já parou para analisar se grande número de consultas poderia ser evitado se houvesse um atendimento profissional menos sofisticado? Por que a medicina preventiva não volta os olhos aos profissionais de farmácia, quase todos habilitados para atendimentos digamos que superficiais?

Deviamos pensar estar, novamente, na hora e na vez de “pharmacêuticos”, profissionais diplomados, que podem, sim, ser o primeiro patamar de atendimentos sem gravidade. É óbvio serem muitas as dificuldades. Mas por que não discuti-las, por que não termos a audácia de repensar o que está estabelecido ou conveniado? O ponto de partida poderia ser a sábia observação de Santo Agostinho: “O novo é antigo.” Bom dia.

1 comentário

  1. Luiz Fernando M Ferraz de Arruda em 27/11/2014 às 00:32

    O novo já era antigo quando o sacerdote, missionário ou o visionário padre Otto Dana fez o batismo de todos os meus irmãos quando a matriz católica piracicabana se negou a batiza-los.
    É mesmo né? Por que não temos a audácia de repensar o que está estabelecido ou conveniado?

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