Humildade em homem público

É sabido ser, a humildade, uma das mais significativas das virtudes humanas. E um dos valores fundamentais para a convivência e coexistência harmoniosas nas sociedades e nações. No entanto, quando buscada entre homens públicos, passou a ser valor e virtude tão raros que se tornou clara e lastimável a vitória da arrogância e da prepotência.

Talvez, o Brasil esteja, ainda, pagando por duas décadas de tirania, de valores subvertidos, uma geração formada mais por imposições do que por escolhas, mais pela força do que pelo direito. Ainda hoje, a prepotência de pessoas que detém algum cargo ou alguma forma de poder é reveladora de concepções e conceitos equivocados, na formação de uma pirâmide invertida: acima estão lideranças medíocres; no meio e para baixo, um povo sem referenciais, submetido ao poderoso de plantão. Repete-se, ainda agora, o que o notável Pedro Aleixo dissera quando do início do golpe militar: “Nas ditaduras, o perigo está no guarda da esquina.” Pois são os guardas que se julgam com o poder de decisões, de julgamento e de avaliações.

Ora, seria até fastidioso comentar sobre a prepotência e arrogância – e, portanto, falta de humildade e de sabedoria – de homens públicos no Brasil e em Piracicaba também. Aqui, temos testemunhos diários dessa pretensão, da indiferença para com a opinião pública, do desrespeito em relação ao pensamento discordante, com a sistemática tentativa de desmoralizar o contraditório. São pequenos guardas da esquina que, tendo um mandato passageiro, acreditam em suas próprias mentiras, escondendo-se em sua mediocridade humana, mesmo quando ocultos sob a falsa alegação de competência e capacidade. O orgulho e a vaidade são o oposto da humildade. E os antigos já sabiam que, para destruir um homem, os deuses começam por lhes alimentar a vaidade. Ficam cegos e se tornam estúpidos, mesmo com cargos, poderes e influência. Homens há que, sem a chibata na mão, nada significam.

Essas considerações são a propósito da atitude elogiável do vereador Capitão Gomes ao, tão longo advertido a respeito de um equívoco seu, rever posições, retornar atrás, retirando um projeto, de sua autoria, que dava nome ao Salão de Humor de Piracicaba. O Capitão Gomes, ao contrário de muitos de seus pares e membros dessa nossa combalida classe política, não apenas entendeu, mas agiu com convicção, a fragilidade da condição humana, nós sempre sujeitos a erros e equívocos. Continuar e persistir, seria tolice própria dos estultos; retornar e rever, ação e atitude resultantes de solidez de consciência moral.

Os cidadãos sabem avaliar joio e trigo, quando percebem que vale a pena fazê-lo. Diante do festival de mediocridades e imobilizados pela letargia da desesperança, o povo, muitas vezes, age e se comporta com indiferença comprometedora, coonestando bandalheiras e bandalhos. No entanto, quando vê e percebe luzes de dignidade e de honradez, esse mesmo povo se ergue, aplaude, caminha ao lado do bem e do bom. Com referenciais, o povo sabe distinguir e para onde ir. Sem balizas, tornamo-nos birutas entregues aos ventos, sem capacidade de discernir.

O Capitão Gomes, pela manifestação dos leitores, colhe os frutos de sua lucidez moral, numa atitude honrada que o dignifica e que deveria ser tomada como paradigma de seus pares. Há muitos anos, ao início de sua carreira, ao perceber que se tratava de uma personalidade diferenciada na política de Piracicaba, tive o prazer de ser o primeiro a manifestar-me, chamando a atenção dos piracicabanos para “Um certo Capitão Gomes”, que surgia no cenário político. Houve idas e vindas, houve equívocos, mas o caráter do Capitão Gomes manteve-se íntegro. Por mais natural que pudesse ser no passado essa capacidade humana de rever caminhos, de humildemente reconhecer equívocos, hoje se tornou exceção. Na vida pública, são raros, raríssimos, os que têm a humildade de reconhecer equívocos. De tão raros, eles se tornam merecedores de aplausos, esses que o Capitão Gomes está recebendo, aos quais juntamos os nossos. Bom dia.

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