Humor e a grosseria de Dunga

GrosseriaO Dunga deve ter-se equivocado quanto às suas funções no comando da seleção brasileira. Ele age, pensa, fala e se comporta como um general que levará seu pequeno exército para uma guerra de importância vital para o Brasil. Ele não é o técnico de um time de futebol, mas o general de guerreiros que ele pretende sejam rudes, duros, agressivos, sem compaixão para com o inimigo. Dunga tem planos de guerra, estratégias, projetos de ataque e de defesa que não podem ser anunciados ou bisbilhoteados por ninguém, a menos que se queira correr o risco de crime de lesa pátria. Dunga, nessa guerra que parece sua e pessoal, nem sequer percebeu que, em se tratando de um exército, o presidente da República seria, então, o comandante em chefe de suas forças armadas. E nem sequer a esse comandante, o Presidente, Lula respeitou, na imagem grosseira, mal-educada, incivilizada, de continuar com a mão no bolso e carrranca amarrada ao ser cumprimentado pelo Chefe do Estado e da Nação.

Já estou torcendo pelo Brasil. Mas sou obrigado a confessar que sem aquele sentimento de nacionalidade que me agitou em outros campeonatos mundiais, pois me fica cada vez mais difícil aceitar, admitir, compreender que a seleção de Dunga seja um exército de guerreiros. O esporte, em especial o futebol, é apaixonante por seus aspectos lúdicos, pelas emoções do inesperado, pela beleza do magistral concerto que os craques desenvolvem em campo, numa verdadeira arte de compor. Dunga quer um exército vencedor e apenas nisso, não importando como. A seleção brasileira parte do Brasil sem levar consigo o frenesi do povo que vê, em seus atletas, verdadeiros heróis, mas não soldados de um exército que, pelo visto, estará numa guerra sem qualquer causa.

O humor de um homem pode revelar quem esse homem é ou como ele está ou se tornou. Isso não é invenção minha, mas conclusão de filósofos: “o humor torna manifesto o que alguém é se torna.” Dunga, por seu humor pesado e tecido com grosserias, mostra-se, acima de tudo, um homem grosseiro, mal educado. E, quando professores são grosseiros, discípulos assumem essa grosseria. O grosseiro odeia a delicadeza, a finesse, o refinamento, o joie de vivre, essa alegria que faz o futebol se revelar também um espetáculo artístico que preenche a alma. O homem de humor pesado não sabe conviver com a alegria. Por isso, talvez, a seleção de Dunga não tenha artistas ou gênios do futebol, mas robôs aplicados, brutamontes disciplinados.

Nos tempos duros, rudes e mal-humorados que vivemos, deveríamos – individual e coletivamente – nos debruçarmos sobre o entendimento e a reflexão a respeito da alegria. Viver, na realidade, é uma busca permanente da alegria, como também se busca a felicidade. Mas nem sempre alegria e felicidade caminham juntas. O homem alegre – assim como comunidades alegres – estão diante de um deleite da mente e do coração. Alegria é júbilo, o gáudio, a letícia dos antigos, que pode tornar a vida mais leve e a convivência mais suave. Dunga parece construir um grupo de homens inspirado na raiva, na tristeza, no rancor.

Essa imagem de Dunga, de mão no bolso ao cumprimentar o Presidente da República, simboliza bem o que esse comandante da seleção brasileira se mostra: um sargento dirigindo um batalhão de aprendizes de guerreiros. Futebol não é isso. Tomara sejamos campeões, mas, desde já, será uma conquista com laivos melancólicos, como a de se comemorar um aniversário no necrotério. Sem civilidade, não se vai a lugar algum. Se se vai, é sem glória. Bom dia.

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