Independência e globalização

Um dos sonhos dourados dos manipuladores da globalização é a instituição de um governo mundial. Aliás, o milenar anseio evangélico de “um só rebanho, um só pastor” parece materializar-se nos delírios político-econômicos, um objetivo de apetites insaciáveis. O chamado “pensamento único de Washington” – que tantas tragédias trouxe à humanidade – tentou uniformizar o mundo, como se culturas específicas não tivessem qualquer significado ou importância. Dominar o mundo pelo controle da economia e da tecnologia é sonho, ainda, dos aprendizes de feiticeiros com seus caldeirões de fórmulas maquiávelicas.

Aliás, um pesquisador de renome, Daniel Estulin, divulgou estudos e pesquisas num livro, desaparecido das livrarias, no qual tenta contar a verdadeira história do Clube Bildeberg, instituição que tem reunido banqueiros, políticos, chefes de estado, proprietários de rede de comunicação, empresários de todo o mundo, definindo regras, propostas e objetivos de dominação mundial. Trata-se de informações perturbadoras que, no entanto, quase não alcançaram o grande público, até mesmo porque o livro desapareceu e não se tem conhecimento de mais nenhuma reimpressão. (O meu exemplar, adquiri-o, depois de muitos esforços, num sebo de Goiânia.)

A uniformização das culturas e civilizações supõe mudanças radicais de comportamento coletivo. Minam-se as culturas locais e regionais, transformam-se hábitos, mata-se o folclore dos povos aos poucos e devagarinho. E, assim, lá vamos nós manipulados para comer as mesmas comidas, vestir as mesmas roupas, falar a mesma linguagem, obedecer as mesmas ordens. Não à toa, a campanha contra o fumo se tornou uma experiência internacional, um teste e um laboratório para a manipulação do comportamento sob o pretexto da saúde púbica. Ora, se for possível mudar os hábitos da população quanto a um vício tão poderoso quanto o tabagismo, tudo, então, será possível. E a experiência começa a dar certo, diante do comportamento quase bovino das massas, já treinadas para não mais terem pensamentos próprios, condicionadas a seguir padrões definidos pelos veículos de comunicação de massa.

O civismo nacionalista, diante desse quadro de doentia busca de um governo mundial – seria quem: ONU, FMI, BID? – torna-se um vírus que precisa ser eliminado, bastando ver os horrores escandalizados da grande imprensa quando surgem, especialmente na América Latina, movimentos nacionalistas. Enquanto países como Colômbia e Brasil adotam civismos elásticos – sem mais valorização de sua própria história, mas aceitando presença e influência externas corrosivas – são humilhados e execrados países com opções nacionalistas, como Venezuela, Cuba, Equador, Bolívia, Rússia e a própria China. O fervor nacionalista é obstáculo vivo contra a dominação cultural. Hipocritamente, Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, entre outros, são países ferozmente nacionalistas, mas com a arte do disfarce.

Essa reflexão vem a propósito do Dio da Independência, no Brasil, uma comemoração melancólica que se resume a alguns desfiles oficiais, militares, sem qualquer entusiasmo ou participação popular. O civismo do povo brasileiro está adormecido, resultado de mais de duas décadas de impiedosa ditadura que tentou matar a originalidade do pensamento brasileiro. Enquanto isso, países que defendem a globalização e que têm interesses no domínio de outros povos, regozijam-se com as datas cívicas comemorativas de sua própria independência e libertação, dos quais Estados Unidos e França são exemplos palpitantes, nas celebrações do 4 e 14 de julho, respectivamente.

A perda de amor às raízes, aos fundamentos, à verdadeira cultura nacional se torna evidente a partir do próprio futebol, esse que sempre foi o fermento que alimentava a alma nacional. Hoje, a seleção brasileira é uma estranha ao povo. O futebol brasileiro, enquanto seleção, não fala à alma de nossa gente. Por que, então, a alma brasileira haveria de regozijar-se diante de uma confusa, romanceada, mal explicada declaração de Independência ou Proclamação da República, das quais o povo esteve ausente? Globalização, com esse sentido de desordem, é apenas outro nome que se dá à casa da mãe Joana. Bom dia.

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