Jornalismo no banco dos réus.

Se as grandes empresas jornalísticas – e as médias, idiotizadas pela incapacidade de enxergar os tempos – não se cuidarem, o jornalismo que exercem será colocado no paredão. E, então, vitimado. Pois já está no banco dos réus, sendo julgado por culpas inadmissíveis, por apetites insaciáveis e por desrespeito a este que é um dos mais nobres serviços públicos que um profissionais podem prestar às comunidades: o da informação.

A internet parece um tsunami que se vai multiplicando e, assim, devastando o que encontra pela frente, de forma que, sem critério algum, varre o bem e o mal, o certo e o errado, o belo e o feio. Trata-se de um fenômeno ainda novo, como um potro indomável e ainda bravio que não tem freios. É a adolescência de um novo mundo de comunicação e, como todo adolescente, a internet não tem ainda critérios maduros ou justos, mas tem percepções e se revela um canal de manifestações impossíveis ainda de serem mantidas. O jornalismo, como o que tem sido exercido nos últimos tempos, está, sim, sendo julgado, como se filhos estivessem julgando os pais. Seria bom lembrar de uma antiga observação sobre a relação pais e filhos: “filhos começam amando os pais; depois, os julgam; julgando, nem sempre os perdoam.”

O jornalismo impresso e o televisivo em especial perderam os velhos referenciais de respeito à população, passando a agir como se fossem cúmplices dos poderes constituídos e, mais ainda, dos poderes econômico e político. Jornais perdem leitores cada vez mais rapidamente; empresas de televisão já se desesperam com o advento de novos veículos, mais simples, mais democráticos, mais acessíveis às massas que, insisto, já se vão tornando turbas.

Esse banco de réus está, na verdade, buscando que o jornalismo retorne às suas origens, que eram missionárias, proféticas, de serviços idealísticos, o que não significa heroísmo e martírio por incapacidade de sobreviver. O jornalismo é missionário por se tratar de uma missão; é profético não no sentido de fazer adivinhações, mas no de ver antes e, por isso, enxergar para ajudar a refletir, advertir para tomadas de posição. E serviço idealístico por não se tratar nem de uma empresa comercial qualquer, nem de uma profissão onde se colocam habilidades e talentos pessoais a serviços corriqueiros, mas habilidades e talentos a serviço de idéias, de ideais e de comunidades. O jornalismo verdadeiro é uma forma de sacerdócio. E não há sacerdócio em empresas comerciais ou em negócios, onde se buscam lucros e interesses outros.

O jornalismo está no banco dos réus porque, desgraçadamente, os tempos pragmáticos levaram multidões às faculdades de comunicação, sem que se desse atenção especial ao talento e à vocação. Jornalismo se confundiu com estrelismo de televisão, com arte teatral ou cinematográfica. E jornalismo, especialmente hoje, é interpretação de acontecimentos, narrativa honesta e inteligente, reflexão profunda sobre os sinais dos tempos. E isso, convenhamos, não é para muitos dos que chegam às faculdades apenas com a intenção de ser novos Datenas, Ratinhos ou Cicarellis.

O jornalismo está no banco dos réus também pela péssima qualidade intelectual de seus protagonistas, textos mal redigidos, manifestações tolas que não passam de achismos e que nada têm de opinião madura, refletida e fundamentada. A situação é tal que, no Brasil, já se criou o MSM, o Movimento dos Sem Mídia, movimento que também peca por fragilidade de reflexão, pois a palavra mídia é macaquice nacional. Mídia é pronúncia inglesa da palavra latina “media”, já me cansei de escrever sobre isso, e “media” é o plural latino de “medium”. Logo, um jornal é um “medium”, um meio, nada tendo a ver – e que jovens empresários de comunicação não se confundam – com médiuns espiritualistas. Portanto, jornais, revistas, rádios, tevês, o escambal são a “media”, os meios. Nossos irmãos portugueses falam de multimédia, não de multimídia. E eles, de quem fazemos piadas e anedotas, nos dão lição de conhecimento.

O problema é que, do banco de réus, o jornalismo pode ser levado ao paredão. Se acontecer, já não se sabe mais, no Brasil, quantos da media eletrônica e media impressa escaparão ilesos. Bom dia.

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