Jovens assassinos

Quem acessar www.blogcidadania.com.br/2011/01 – em jovens-pregam-assassinato-de-dilma-no-twiter – terá um quadro sombrio dos caminhos trilhados por uma parcela de juventude enlouquecida brasileira. São dezenas e dezenas – talvez, centenas – de jovens que se comunicam fazendo, entre si, a defesa do assassínio da presidente Dilma Roussef no dia de sua posse. E, à maneira mais primitiva da Ku Klux Klan ou da juventude nazista, invocam atiradores de elite para, a exemplo do que se fez com John Kennedy, causar a morte da presidenta do Brasil. Jovens candidatos a assassinos repetem a intolerância criminosa que já se revelou em relação a homossexuais.

Por enquanto, a internet tem sido como que a terra de ninguém, na qual, em nome da liberdade de expressão, cometem-se crimes hediondos e se planejam tragédias que nos remetem à barbárie. Uma parcela de nossa juventude – já apontada como economicamente da classe mais alta, a elite materialista do Brasil – revela a sua total insensibilidade em relação à existência do outro, sua incapacidade para conviver, civilizadamente, entre diferentes e com o contraditório. Apela-se para a violência primitiva como se se fosse a uma lanchonete comer hambúrgueres. É uma incitação irresponsável à violência, sob a indiferença dos pais e, às vezes, até mesmo com a complacência das famílias.

Um dos jovens, naquele blog, expõe à própria mãe e à avó o seu desejo de assassinar Dilma Roussef ou de vê-la assassinada. E, por raciocínio dos mais simples – se o rapaz tem a desfaçatez de tornar pública sua intenção, compartilhando-a com a mãe e a avó – permite-se supor que tais conversas, tais discussões, tais ranços sejam algo banal no cotidiano de sua família. Que se pergunte: qual a diferença essencial entre moços de elite que cultivam a violência e o ódio, e moços de favelas que se aliam a traficantes? A mesma cultura da morte, a mesma devastação de sentimentos e a mesma compulsão pelo ódio permitem que classes opostas se unam na vala pérfida do horror.

A ruína moral atingiu o alicerce espiritual da nação, como um câncer que se espalha em metástases incontroladas e por ora incontroláveis. Enquanto nos preocupamos, farisaicamente, com a corrupção nos meios políticos – como se não fôssemos corresponsáveis também por ela – essa mesma corrupção disseminou-se pela sociedade inteira que se deixou subjugar por pragmatismos e materialismos indecentes. Antes, pais orientavam filhos para uma vida digna e altiva; hoje, vêem-se, cada vez mais, pais educando filhos para serem espertos e oportunistas, quando não formando verdadeiras quadrilhas familiares. E não apenas nos morros e favelas, mas em empresas, em bancos, em organizações familiares, salvando-se, como sempre, as exceções.

Estamos, na realidade, diante de uma tragédia moral. E de tal monta que a simples referência à palavra moral incomoda as pessoas, como se fosse algo extinto, ultrapassado, medieval. E não é, mesmo porque há uma nova ordem moral surgindo no mundo, nas nações mais desenvolvidas, nos países mais civilizados – no cansaço da imundícia que atingiu todos os alicerces. Enquanto, no Brasil, agimos como novos ricos, deslumbrados com o consumismo desenfreado, há uma pausa, no mundo, em busca da retomada dos valores perdidos.

O irônico, diante da falência dessa elite apenas consumista brasileira, é constatar que as novas elites estão sendo formadas pela ascensão irresistível das antigas classes sociais mais desassistidas. Se isso é bom conforme o parâmetro da economia, passa a ser uma incógnita na dimensão social: que valores estão sendo levados para o topo da pirâmide? Com uma educação deficiente, com sofrimentos sem conto, que princípios estão norteando essa nova classe média brasileira? Talvez, no entanto, as perguntas sejam menos importantes se considerarmos que, como já disse o Tiririca, “pior do que está não fica”.

Pais irresponsáveis e filhos assassinos, eis aí um pequeno retrato do que parcela da juventude da antiga elite apresenta ao Brasil. Bom dia.

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