Jovens e a banalização da vida

Venho defendendo a teoria de que um dos grandes problemas de todos nós está na banalização da vida. A vida, no Brasil, parece ser, mais do que em qualquer outro lugar, um dom realmente gratuito.

E, quando falo de vida, não o digo apenas de pessoas, mas de tudo o que vive. E como se a fertilidade fosse tanta, sem limites e sem freios, que nascer — e insisto em que falo de tudo o que é vive – parece uma banalidade. Frutas nascem sem que ninguém as plante, animais procriam e se multiplicam sem que ninguém deles cuide, flores espalham-se por todos os cantos, as sementes levadas pelo vento. E o ser hunano?

A fertilidade parece infinita, as pessoas nascem como se os úteros e ventres femininos tivessem prodigalidades ilimitadas.

Viver é outra coisa. E o problema está em que a vida tem sido banalizada, tanta vida existe, sem que nos lembremos, porém, — sem entrar em elucubrações filosóficas ou religiosas — que a vida é apenas uma, num tempo, num lugar.

Banalizamo-la, como se fosse possível perdê-la e recuperá-la logo em seguida. E o fazemos porque não lhe damos importância, perdemos o sentido da sacralidade da vida. Vejam os jovens: eles jogam a vida fora, destroem-na, matam-se por imprudências e leviandades revoltantes. E como se ninguém nunca lhes tivesse tido: “filhos, a vida é o maior de seus tesouros. E é única. Não a desperdicem, não a percam, não haverá outra oportunidade como essa.”

Escrevo isso porque vou amargurando-me cada vez mais diante de notícias de mortes tolas, estúpidas, sem sentido, que ocorrem com jovens que não se deram conta da sacralidade do viver, desse dom e desse tesouro. Eles arriscam a vida a troco de nada, de absolutamente nada, por tolices, por idiotices. E a perdem tragicamente, deixando um rastro de dores na vida dos que os amam. E de indignação, ao se ver a inutilidade do que fizeram, a tragédia gratuita, a morte tola e sem sentido.

No Brasil, jogamos com a vida, brincamos com ela – talvez por essa ignorância imensa de pensar que a vida, aqui, é tão pródiga e abundante que não há necessidade de preservá-la.

Crianças estão morrendo? E que diferença faz, se nascem milhares por dia? Parece ser essa uma noção inconsciente e inconsistente. Estou achando que não nos basta apenas cuidar para que crianças e jovens sobrevivam. É preciso mais: temos que ensinar-lhes a dignidade da vida, a grandeza imensurável desse bem, ir-lhes mostrando, talvez desde o ventre materno, que viver é um presente especial e não uma banalidade qualquer. Desde crianças, temos que ensinar-lhes que há que se cuidar da vida, pois é bom viver, vale a pena viver. E que, por isso, o grande adversário, o inimigo implacável, é a morte.

Confesso que, além de angustiar-me, irrito-me cada vez mais ao ver a pouca importância que os moços estão dando à vida, essa irresponsabilidade egoística que não mede o rastro de dores quando, tão tola e estupidamente, eles vão ao encontro de morrer. Há alguma enfermidade coletiva que entrou, como vírus, na cabeça dessa geração. Temos que curá-la. E bom dia.

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