Juventude faminta

Convidado para proferir uma palestra sobre Piracicaba, na Biblioteca Municipal, o convite me pareceu ainda mais honroso e significativo por partir de jovens ligados à arte, apaixonados por teatro. Foi como se, de repente, surgisse um oásis num deserto de interesses pela história, pelas origens, pelo umbigo de todos nós. Pois, nas últimas décadas, venho acompanhando, desconsolado, a verdadeira desolação imposta à juventude em nível cultural. A que prevalece é a cultura de massa o que, na verdade, não significa nada, a não ser a exploração de entretenimentos em proveito comercial, falando-se em síntese.

Foi-me, pois, estimulante e revigorante. Pois vi jovens que conseguiam atrair, para a Biblioteca, pessoas maduras, de outras gerações, ao passo que eles próprios, os moços, se mostravam verdadeiramente famintos para conhecer a terra onde nasceram ou que os acolheu. E o interesse era amplo: a cultura, os valores, o folclore, a história, a música, as artes, a literatura, acontecimentos. Tendo a investigação da queda do Edifício Luiz de Queiroz (COMURBA) como ponto de partida, os jovens mergulhavam nas entranhas da história, em busca de contextualizar aquela tragédia e de buscar as causas verdadeiras, não apenas as narradas. Foi alentador e, para mim, se me confirma a certeza de que basta dar, aos jovens, um ideal pelo qual eles possam se apaixonar e, então, romperemos o círculo vicioso de mediocridades e de banalidades a que temos assistido. Pois há uma juventude oculta, quase anônima, que não freqüenta baladas e nem está em colunas sociais, vivendo a sua história pessoal de lutas, de esforços, de sacrifícios e de conquistas.

Ora, não entendo como pode haver a pretensão de se construir qualquer futuro sem alicerces firmes no passado, fazendo a síntese do que aconteceu, e decisões sólidas no presente. Na verdade, na verdade, só há uma certeza para o futuro: a morte. Se projeto importante houvesse, esse seria, então, o de ir em busca de como se evitar o fim, de como superar a morte. Pois é o presente que se constrói, com os referenciais da história vivida, com os balizamentos de uma herança ancestral que contém verdades e princípios permanentes. SE valores mudam, princípios devem ser mantidos para haver a estrela guia, o Norte, a bússola, a orientação. A fome, pois, da juventude está na busca desses princípios esquecidos, na quase sufocante busca de encontrar rumos e pistas concretas, não mais estradas tortuosas ou caminhos que saem do nada em direção ao lugar nenhum.

Vivemos um realmente admirável mundo novo em ciência e em tecnologia, com aberturas inéditas para o mundo. No entanto, muito está se perdendo pela falta de decisões e de definições, como se uma imensa cortina de poeira ainda toldasse visões e impedisse vislumbrar horizontes. Já há alguns anos, entusiasmei-me com uma frase que li não sei de quem., não sei onde. Que dizia apenas isso: “Precisamos engravidar a juventude de humanidades.” A retomada de um humanismo verdadeiro, a redescoberta das humanidades, nisso está, acredito eu, a resposta para quase todas as nossas perplexidades. E o alimento verdadeiro para a fome da juventude. Bom dia.

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