Lula, água morro abaixo, fogo morro acima.

LulaQuando Juscelino Kubitscheck deixou o poder, ao entregar a faixa presidencial a Jânio Quadros, teve uma despedida apoteótica em Brasília. No entanto, ele saíra fragorosamente derrotado da eleição, com seu candidato, o Marechal Lott, sendo repudiado pelos eleitores. O próprio Juscelino, apesar de suas conquistas extraordinárias – levando o Brasil a um extraordinário de desenvolvimento – dividia a opinião pública, longe, muito longe, de ter o aplauso da maioria. E ele, depois de Getúlio Vargas, fora o mais querido presidente da República.

O presidente Luis Inácio Lula da Silva – esse animal político que desafia a análise de especialistas e a interpretação dos acadêmicos – sai do governo com um índice mais do que espetacular de popularidade, próximo de atingir os 90% de aprovação, o que seria, em estatísticas políticas, a unanimidade nacional. Com 87% de aprovação, o presidente Lula passa para a galeria dos mais carismáticos, amados e respeitados líderes mundiais. Trata-se de um fenômeno ainda inexplicável, mesmo levando-se em conta o grande governo que promoveu e as transformações a que conduziu o país.

Ora, em circunstâncias e condições semelhantes, outros governantes poderiam realizar o que o presidente Lula realizou. E até mais, como muitos já chegam a acreditar que a presidente eleita Dilma Roussef poderá fazer. No entanto, o que torna Lula diferente de todos os políticos, atuais e anteriores, é esse carisma admirável que provocou toda essa notável empatia com o povo. Poucos foram tão massacrados quanto ele pela chamada grande imprensa, agora conhecida como “velha imprensa”. Ainda hoje, o ranço de jornais, revistas, emissoras de tevê é manifestado de maneira melancólica, como se eles falassem apenas entre si, ignorando o povo, as estatísticas, as pesquisas, as manifestações populares.

Não se conhece, no mundo – com exceção, talvez, de Franklin D.Roosevelt – um governante que tenha conseguido tal e maciço apoio, tais e amplas manifestações de carinho, de ternura e de confiança de um povo. Pois chega a soar ridícula a insistência de um monótono discurso oposicionista, vindo das torres de marfim, das cúpulas dos castelos, dos narizes empinados e dos que protestam por protestar, por hábito e sem causa. Lula é um fenômeno político e uma pessoa humana diferenciada, que mais facilmente seria explicada se, para ele e sua vida, usássemos a palavra predestinação. Como se explica tudo isso? Apenas pelo Bolsa Família, apenas pelo apoio dos grotões? Se fosse apenas por isso, o apoio e o aplauso seriam menores e setorizados. Mas o presidente é aplaudido em todas as classes sociais, em todos os estados e municípios, com exceção, talvez, apenas de Piracicaba, onde há uma letargia social e política que se aproxima em muito do colapso.

Com 87% de aprovação, conforme o IBOPE, Lula confirma o canto do mineiro Belmiro Braga: “água morro abaixo, fogo morro acima…” Foi o povo falando mais alto, mostrando-se mais forte do que minorias empertigadas, saudosas da Casa Grande ou de intelectualizações estéreis. Diante de Lula, nada mais resta do que lhe tirar o chapéu. E bom dia.

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