Maradona e Dunga

DungaHá pouca gente, creio eu, que esteja torcendo contra a Seleção Brasileira. Com ou sem alegrias, queremos ser campeões do mundo novamente. E apesar do Dunga. Que está conseguindo se transformar numa das mais antipáticas personagens da Copa do Mundo na África do Sul. Dunga é nome de um dos sete anõezinhos, amigos da Branca de Neve. Em inglês, é o dopey, corruptela da palavra dope, idiota. Mas se idiota Dunga não é, ele costuma fazer o papel de outro anão, o Zangado, grosseiro e mal-educado. Desde que ergueu, como capitão do time campeão, a taça do Mundo, já mostrou ser um caráter belicoso, grosseiro, rude, áspero. Se futebol é arte, Dunga ou Zangado nada tem a ver com isso. Se a seleção é a Pátria de Chuteiras, o Dunga se parece mais com a sola delas.

Por outro lado, a figura de Maradona, como técnico da seleção argentina, se transforma no mais pleno sucesso populista da Copa do Mundo. Canastrão, falante, imprevisível, sem papas na língua, conhecido por se envolver em trapaças e confusões sem fim, Maradona faz parte desse elenco mundial de fenômenos que desafiam a compreensão humana: amamos os malandros. Talvez, porque sejam simpáticos, talvez porque nos vejamos neles ou, então, por, no fundo de nós mesmos, nutrirmos a vontade da malandragem. Amamos pessoas com tal perfil da mesma forma como, no circo, amamos os palhaços, colocando-os como figuras preferenciais.

Na literatura brasileira, há personagens que se tornaram amados apesar de suas falhas de caráter: Jeca Tatu, Macunaíma. E os personagens cafajestes mas adoráveis de Jorge Amado? Há uma aura imantadora em certos tipos de cafajestes que fascina e que atrai. Mau-humorado e militarista, Dunga causa aversão. Espertalhão e malandro, Maradona é amado por seu povo quase que ao nível da idolatria, mesmo porque argentinos chegaram a criar uma Igreja de Maradona. É o mistério da fascinação.

Ora, Pelé foi, sem dúvida alguma, o mais completo jogador de futebol de todos os tempos. Próximo dos seus 70 anos, Pelé, até hoje, não teve quem sequer se aproximasse de seu talento, de sua genialidade, de dons que se não repetiram em outros atletas. Como homem e cidadão, Pelé tem mostrado uma vida exemplar, cuidando de sua imagem como que sabendo tratar-se de um patrimônio nacional. Tornou-se um dos nossos reis, o Rei Pelé, como temos o Rei Roberto Carlos, na nossa nostalgia monárquica. No entanto, admirado e respeitado, Pelé não é amado. O Brasil amou e ainda ama um outro craque que nos cativou por suas malandragens no campo e na vida: Garrincha. Por mais queiram transformar o futebol em importante questão empresarial, ele, na alma do povo, é arte, festa, alegria.

Argentinos, na idolatria a Maradona, dizem que Pelé é, sim, rei. Mas que Maradona é deus. E, na África do Sul, cada gesto, cada palavra, cada decisão de Maradona ocupa das manchetes de todos os jornais, como se fosse uma estrela fulgurante ou um ídolo pop. De uma certa forma, Maradona é o Macunaíma argentino, o Saci Pererê que encanta mesmo quando não se é levado a sério. Enquanto isso, Dunga ou Zangado, com seu ranço e destilando fel, continua alimentando aversões até mesmo quando, no campo, o selecionado começa a mostrar um futebol razoável. Maradona, adorado; Dunga, rechaçado. Se a Argentina for campeã, será a festa completa, a farra, a alegria descomunal, o futebol transformado em festival dionisíaco. Se o Brasil vencer, a nossa festa poderá até ser formidável. Mas continuará sendo estragada pela presença grosseira e tosca de Dunga, um homem sem civilidade. Bom dia.

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