Mariana e Plínio

Marina e PlínioA confiar nos institutos de pesquisa, a eleição de Dilma Roussef à presidência da República é mais do que possível. Se acontecer, o presidente Lula sairá do governo levando um outro troféu, o de ter conseguido eleger “um poste”, conforme apregoava a oposição. Ficaria, então, uma discussão que, talvez, nunca chegasse ao fim: Lula e Dilma teriam vencido ou seria José Serra que teria perdido? Pois a campanha de Serra foi e tem sido uma das mais desastradas de que se tem conhecimento, como se seus orientadores tivessem feito tudo para perder. A pergunta, que percorreu o eleitorado desde o início, pode resumir-se numa só: “por que votar em Serra se ele não pretende mudar nada, continuando o que aí está? Se o que está é bom, que, então, continue.” – teria sido a mensagem enviada ao eleitor que a captou por inteiro.

Dessa campanha, surgiu uma nova sigla que corre a internet, que vai de boca em boca: GAFE. Que identifica o verdadeiro conglomerado de meios de comunicação que se uniram para vencer Lula e seu poste que se revelou mulher competente: Globo, Abril, Folha, Estadão. Caso se confirme a vitória de Dilma – causando estupefação pela possibilidade de vencer no primeiro turno – mais uma vez se provará que imprensa não vence eleição, apenas ajuda a derrotar. E se é mesmo o povo que decide, será farisaísmo democrático a alegação de que a massa popular, a maioria do eleitorado, é formada de analfabetos. Ora, se o povo não sabe votar, como alega a minoria que está no vértice da pirâmide social, que se elimine, então, o povo ou que se acabe com a democracia que nem sequer foi ainda instaurada por inteiro. O GAFE exerceu um papel que transformou a chamada grande imprensa num outro partido político. O desespero do GAFE foi de um ridículo atroz.

De qualquer maneira, excetuando o ridículo dos chamados candidatos nanicos que parecem palhaços de um circo mambembe, temos – pelo menos é o que penso – que admitir a participação respeitável e honrada de dois candidatos em especial: Marina Silva e Plínio de Arruda Sampaio. Marina manteve uma postura impecável, com mensagem definida, com propostas ideológicas que tiveram acolhida de um número também respeitável de eleitores. E, pelo andar da carruagem, não será impossível que, nos próximos dias, Marina Silva se aproxime de José Serra, em queda cada vez mais livre. O fato é que ela, Marina, sem revelar estatura de estadista, confirma uma realidade nova na política brasileira, feita de coerência e de lisura. A simples presença dessa mulher impõe respeito, tendo-se já tornado verdadeiro símbolo de uma austeridade que a política brasileira parece ter abolido.

Plínio de Arruda Sampaio, aos 84 anos de idade, não foi, na verdade, um candidato à presidência da República, mas uma voz dissonante, um pregador de outras vias, como que o sábio a dar conselhos e a definir rumos. Por mais possam ser discutíveis algumas de suas idéias, Plínio de Arruda Sampaio mostrou que permanece fiel a princípios e a valores que lhe nortearam a vida desde quando foi um dos ícones da democracia cristã brasileira. Lembro-me de Plínio, durante o governo do inesquecível mas desconhecido para as novas gerações, prof. Carlos Alberto de Carvalho Pinto. Lá, ao lado de Carvalho Pinto, estava uma plêiade de homens de cujo círculo sinto-me, ainda hoje, envaidecido de ter pertencido: Franco Montoro, Chopin Tavares de Lima, Paulo de Tarso, Queiroz Filho, tendo Plínio de Arruda Sampaio como o grande arquiteto de idéias, o grande planejador.

A participação de Marina Silva e de Plínio Arruda Sampaio, independentemente do resultado das urnas, arejou essa campanha eleitoral sem graça, desarticulada, quase sem disputa ideológica e com a alternativa melancólica: deixar estar para ver como fica ou mudar para continuar tudo como está. Dilma carregou a herança de Lula, José Serra não teve bandeira para desfraldar. E qualquer analista primário sabe que isso era previsível, como que repetindo o que ocorre em São Paulo com a grande vantagem de Alckim: se tudo vai bem, para que mudar? O PT e Mercadante, na disputa paulista, caíram no mesmo vazio de José Serra na competição nacional. Talvez, o grande vencedor esteja apenas despontando. Seu nome, Aécio Neves. E bom dia.

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