Martírio por Paula

Certa vez, contei o que a Paula – que continua e sempre será a nossa Magic Paula – me devia. Decidi contar novamente porque a Paula continua devendo-me uma aventura que, por ela, vivi e que dificilmente poderá ser paga no tanto e quanto me custou. Ora, nada tem a ver com dinheiro, coisa banal. Na verdade, nunca ocultei minha paixão pela Paula. Eu a via na quadra, babava. Nunca reparei na bola, na cesta. Era ela, Paula. E a bandana, cabelos esvoaçando? Ela tem até covinha no rosto. Só duas perfeições encontrei na vida: o rosto de Ingrid Bergman e Paula, ai!

Foi pública a paixão. Um dia, minha ex-mulher e a Hilda, a dona Neca e mãe de Paula, me tomaram pela mão, decidiram: “Hoje, você vai conhecer a Paula.” Foi o que já escrevi: a alma mora na boca do estômago, nas dobras dos joelhos. Tive náusea e tremi. A Hilda me apresentou: “Filha, eis outro apaixonado.” E o Beto – saudoso Beto, pai da Paula, das moças Gonçalves – tinha pena de mim. Em reuniões em sua casa, o Beto servia cerveja, estimulava-me: “Pode olhar, pode olhar…” E eu olhava. Nada fiz, a vida toda, senão olhar. É justo?

Pois bem. Convidado a escrever o livro sobre a trajetória da “Magic Paula”, minhas más intenções – na verdade, ótimas – afloraram: “Será?” E combinamos, uma vez por semana, tomar chope e conversar, Paula dizendo de sua história para eu poder escrevê-la. Ela falava, falava, eu não ouvia. Era feitiço. Um dia, o Renato Jacob – no antigo “Ponto de Encontro” – servindo-nos petiscos, deu-me uma cotovelada: “Acorde aí, meu. Tá com cara de bobo.”

Foi-me impossível entender a magia daquela mulher. Fãs da Paula haviam, em Recife, feito um templo onde oravam por ela, doidice. O fanatismo corria o Brasil. Decidi desvendar a feitiçaria. Autorizado por ela mesma, fui à Unicamp, onde tenho amigos expertos em mistérios. Indicaram-me astrólogos, videntes, mães-de-santo, não sei o nome de quem entende de anjos, mas indicaram. De anjo a Exu, andei, vá lá, por Ceca e Meca.

Nesses mistérios, só encontrei mulheres. O que me consolou. Pois entendi: ninguém entende de mulher. Não sou apenas eu. Duas havia, renomadas: em Vinhedo e Hortolândia. A de Vinhedo – juro e faço figa! – tinha dois tocos de chifres na cabeça: “Foram cortados na África.”, falou. Fugi, telefonei para a mãe de santo de Hortolândia. Ela me propôs: falaria e contaria os mistérios da magia de Paula mas, depois, eu teria que tomar banho de ervas. Topei.

A mãe-de-santo falou, acendeu velas, incenso, entrou em transe, falou e não disse. Depois que saiu, lindíssimas moças mulatas e negras dançavam. Durou uma tarde quase toda. Daí, a mãe exigiu: “Agora, vá tomar banho.” Pensei fosse em minha casa. Mas era lá mesmo, na casa de feitiços. Tentei escapar. Lindas, vaporosas, as moças levaram-me à sala de banho, pedindo eu tirasse as roupas: “Tudo?” – gemi. “Tudo.” – exigiram. E uma delas – toda misteriosa – sussurrou: “Somos como enfermeiras.” E me deram banho. Com água de sete ervas.

A Paula, até hoje, nem me perguntou nada, tampouco reconheceu o sacrifício que fiz por ela. Nem me deu tchum. Estou contando outra vez para ver se, depois de tantos anos, a Paula se dá conta do que sofri por ela. E bom dia.

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