Maturidade e perda de ambições

Um dos resultados de se ir adquirindo experiência e maturidade, conforme se vai alongando a vida, está na perda de certas ambições. A pouco e pouco surgem desinteresses mesmo que sejam realidades que anteriormente pareciam ter muita ou grande importância.

Incluo, nisso, também ideais. Alguns, mais abrangentes –talvez por serem universais -permanecem. Outros, quase todos, específicos ou determinados, vão-se embora.

Ideais políticos, por exemplo. Eles vão se perdendo, acabando, de decepção em decepção, à medida que se vai compreendendo a política como um milenar jogo de poder, não de sonho aristotélico tomista, utópico, de “’bem comum”.

O fantástico da juventude está justamente em sua falta de experiência, o que lhe permite, portanto, todos os riscos e sonhos. E a vontade de mudar o mundo, simplesmente de mudá-lo, mesmo que não se possa entendê-lo nesse tempo da vida Querem-se mudanças, não importam quais.

Então, um belo dia depois de tanto decepcionar-se, de ir aprendendo com fracassos e quedas – se descobre que, realmente, quanto mais se mexe mais tudo se torna igual. Mas é bom aventurar, ir em busca, aprender com erros, com quedas, com decepções e fracassos.

Entendo, hoje, que não há outra maneira de aprender ou, pelo menos, se chegar a um estágio em que se pode estabelecer uma escala de prioridades, uma hierarquia de valores. Se não houver, antes, a aventura, a busca, o bater-cabeça, creio que nunca se alcançará a maturidade, esse tempo de desinteressar por tantas coisas e de encontrar interesses em outras que pareciam tão pouco importantes.

O fato é que a experiência de vida tem esse custo ou esse prêmio: causa desinteresse, sepulta muitas ambições.

Lembro-me – e já escrevi sobre isso – do que eu dizia a meus filhos, quando eram crianças ou adolescentes: a lição está no sinal de trânsito. Uma pessoa madura, numa estrada, quando vê o sinal de desvio, de variante, desvia. O jovem não acredita no sinal, vai em frente e, diante do transito interrompido, volta. Trata-se do ver para crer ou daquela certeza de que, se algumas coisas tem sido impossíveis para todos em todos os tempos, para o jovem é possível.

Quando percebe e descobre que há, na vida, o que não é possível fazer, eis a maturidade chegando. E, com ela, o surgimento de outros interesses, essa descoberta maravilhosa, por exemplo, da planície, do anonimato, da paz na alma.

Escrevo isso por causa de um jovem que insiste para que eu volte a lutar politicamente, a participar. “Você desanimou.” – fala ele. Não, não foi desanimo. Trata-se de constatação: não há soluções coletivas. Mas pode haver uma resposta pessoal. E bom dia.

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