Meninos do Brasil

MeninosA vontade coletiva são ondas que se espalham pelo ar, às vezes simples brisas, temporais ao depois. Se há quem diga que o povo não sabe votar, engana-se. O povo sabe, em sua credulidade quase infantil, razão pela qual é traído e enganado tantas vezes. Se há, no entanto, algo que o povo brasileiro conhece, sabe e sente, como se lhe atingisse razão e coração, isso é o futebol, um dos traços de união de nossa gente. Sente-se no ar o que o povo quer, apesar de dirigentes estúpidos e técnicos pedantes. E o povo acerta.

A famigerada Seleção do Dunga foi para a África sem levar consigo o entusiasmo da população que, mais por mania do que vontade, desejava fosse campeã. Mas quase ninguém acreditava nela, querendo outros nomes, outros craques, que ficaram por aqui brilhando e encantando. Deu no que deu, o fracasso rotundo e o desaparecimento melancólico de Dunga, como se estivesse fugindo de seu próprio povo. Com Dunga, sepultou-se, também, uma filosofia esportiva, um comportamento belicoso de jogar, a opção pela raiva diante da alegria.

E isso foi provado neste último jogo do Brasil, na agora chamada Era Mano Menezes, que teve a coragem e o discernimento de encarar o futebol como um dos patrimônios espirituais do povo brasileiro, um dos pilares de nossa cultura, a motivação que faz o povo unir-se, vibrar, acreditar, sonhar. Mano Menezes, na verdade, ouviu a voz do povo e levou os “meninos” que, agora, não são mais “meninos da Vila”, mas “meninos do Brasil”. E houve como que uma libertação de amarguras e de repressões, uma libertação de engessamentos, uma ressurreição do futebol brasileiro que tem encantado o mundo há tantas décadas.

Os comentários foram amplos e gerais: a alegria voltou, o entusiasmo renasceu, mesmo sabendo-se que foi apenas uma partida que, no entanto, traz a esperança de um retorno à picardia, à arte de um jogo mágico, ao encantamento que parecia perdido. Há muito e muito tempo, não se via uma seleção brasileira de futebol jogar com tanta paixão, descontração e vontade, como se, mais do que num campo de futebol, estivesse num palco para um bailado clássico.

Os “Meninos do Brasil” trouxeram a alegria de volta e provaram que o povo sabe o que deseja, sabe o que busca, pelo menos no futebol. Essa seleção do povo devolve um orgulho nacional que estava ferido. E que o povo tinha razão ao clamar por Neimar, Ganso, Hernanes, André Santos, Jucilei, Lucas, além de verdadeiros desconhecidos nossos que encantaram pelo talento e vibração. Nesse caso da seleção, mostrou-se que “povo unido jamais será vencido.” Desde que a garotada não se perca com os brilhos da fama e com os sons dos aplausos. Bom dia.

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