Moços, prazer e Gibran

picture (79)Um dos prazeres maiores – e uma, também, das agonias – têm-me sido conversar com moços. Neles, há esperanças que já perdi. E perplexidades que não mais tenho. Com moços, aprendo a esperar. E a retomar espantos esquecidos. Ou amordaçados.

Pouco há a lhes dizer. Viver não se ensina, nem se repassa. Viver, vive-se vivendo. Seria tolice dizer, a jovens, ser preciso cair para se erguer. Ou que a dor é benfazeja. Coragem, quem tem para lhes dizer que tudo passa? E tudo passa: amor e ódio, alegria e tristeza, bênçãos e maldições. A herança é a soma da própria vida vivida. Vendo-se que foi bom, rendem-se graças.

Uma jovem estudante – entrevistando-me para um trabalho escolar – falou-me das difíceis relações entre moços e idosos, de incompreensões, de gerações em conflito. Nada, pois e realmente, há de novo sob o Sol. Dizendo de alegrias, do prazer de viver, de desejos jovens, a jovenzinha pediu-me a opinião de quem já passara pelas mesmas estradas. Pedi-lhe fosse ouvir Gibran, Kahlil Gibran – mas onde estava ele?

Por alguns dias, procurei Gibran. Não o encontrei. Eu sabia que – silencioso, sábio e profeta – ele estaria recolhido. Encontrei-o num fundo de estante. Também sobre o prazer, Gibran – pela voz do profeta – tem tesouros a revelar-nos, a jovens e velhos:

“O prazer é uma canção de liberdade. Mas não é a liberdade. É o desabrochar dos desejos, mas não seus frutos. É um abismo mirando para o cume. Porém, não é nem o abismo nem o cume. É o pássaro cativo ganhando asas, mas não o espaço em seu entorno. Sim, na verdade, o prazer é uma canção de liberdade.

Quem me dera poder ouvir cantá-los com o vigor de seus corações: porém, não gostaria que perdessem seus corações no canto.

Alguns jovens de agora buscam o prazer como se fosse tudo na vida e são condenados e repreendidos. Eu preferiria nem condená-los nem repreendê-los, mas permitir suas buscas. Pois encontrarão o prazer, mas não só ele. Sete são suas irmãs e a última dentre elas é mais bela que o prazer.

Por acaso, não ouviram falar do homem que escavava a terra à procura de raízes e descobriu um tesouro? E alguns velhos aqui presentes recordam seus prazeres com remorso, como se fossem erros cometidos num estado de embriaguez. Mas o remorso é o esmorecimento do espírito, e não o seu castigo. Deveriam, na verdade, relembrar seus prazeres com gratidão, se fosse a lembrança de uma colheita de Verão. Mas se o remorso lhes servir de consolo, que assim seja.

E há, entre vocês, aqueles que não são jovens para procurar, nem velhos para recordar. E, por medo de procurar e recordar, evitam todos os prazeres, temendo descuidar do espírito ou vilipendiá-lo. Contudo, até nessa renúncia encontram o prazer. (…)

Mas, digam-me, quem é que pode ofender o espírito? Porventura, o rouxinol no silêncio da noite, ou o vaga-lume, as estrelas? Ou poderá sua chama ou fumaça barrar o vento? (…) Mesmo seu corpo conhece sua herança e seus direitos, não há como enganá-lo. E o corpo é a harpa de suas almas. Cabe a vocês tirar dela música melodiosa ou ruídos dissonantes.

(…) Como distinguir o que é bom no prazer e o que é mau? Percorram campos e jardins e, lá, aprenderão que o prazer da abelha é sugar o mel da flor. E o prazer da flor é entregar o mel à abelha. Porque, para a abelha, uma flor é uma fonte de vida. E, para a flor, uma abelha é uma mensageira de amor. E, para as duas, abelha e flor, dar e receber o prazer é uma necessidade e um êxtase.”

Bom dia.

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