A musa de 80 anos

Sophia Loren

Querem saber? Na verdade, na verdade, sinto pena das novas gerações que não viram e viveram aquela época de ouro da humanidade. Foram os chamados “anos dourados”, que, hoje, eu diria terem sido “anos encantados”. Quando nos recordamos deles, a impressão que fica é a de Deus ter reunido todos os seus anjos e, com eles, brindar o mundo e os homens com uma verdadeira chuva de beleza, de alegria, de mágicas e de magias.

Naqueles anos, o Deus único – de judeus, cristãos, muçulmanos – resolveu humilhar o Zeus grego, aquele que gerou as nove musas da Antiguidade. Na mitologia, Zeus teve nove noites de amor com Mnemósine, a personificação de Memória. E ela, a Memória, deu-lhe, um ano depois, nove filhas, as nove musas. Era o início de uma era em que a Música prevaleceu no Universo. Foi o primado da harmonia, da sabedoria, das melhores formas de pensamento, da astronomia, da matemática, do conhecimento. Com as Musas gregas, o mundo e a humanidade passaram a ouvir coros de anjos. Mas, com o tempo, eles silenciaram.

Nos nossos  “anos dourados” ou “encantados”, as Musas reapareceram, ofertas desse congresso de Deus com seus anjos. E tudo aconteceu e tudo brilhou e tudo se tornou vivificante. Foi uma conspiração do bem, do bom, do belo. E a beleza reinou com reflexos que se irradiaram por todo o mundo, em todos os quadrantes. Foi um milagre e o mundo mudou. Para melhor, para muito melhor. Pena, porém, tenha durado tão pouco, pois os famintos pelo poder devoraram tudo, matando especialmente a beleza e a alegria.

Foi o tempo de musas e de jovens deuses olímpicos. E surgiram homens da estatura de João XXIII com a sua Primavera da Igreja”; de John e Jacqueline Kennedy, instalando a nova “Camelot” na Casa Branca; de Juscelino Kubitschek, com sua santa loucura da construção de Brasília, que o mundo viu como a “Capital da Esperança”. E vieram Elvis, Beatles, Bossa Nova, Vinicius, Tom, Chico – não quero sequer lembrar, pois dá  vontade de chorar. E as musas em carne e osso: Brigitte Bardot, Gina Lollobrígida, Marilyn Monroe, Ava Gardner. E ela, a amedrontadora mulher de nome Sophia Loren.

Quando me refiro à La Loren como amedrontadora é porque, na minha adolescência e juventude, eu tive medo dela. Em nossos sonhos juvenis, ardíamos de febre por aquela constelação de belas e irresistíveis mulheres. E havia, até mesmo, paixões platônicas, como a que eu tive por Ava Gardner, a quem Hemingway chamou de “o mais belo animal do mundo”. Para mim, Ava Gardner era o primor da natureza. E eu a amei como se ama a uma imagem. Então, aparecia Sophia Loren… Meu Deus! Todos os instintos animais dos homens – desde adolescentes a velhinhos – eram despertados e alimentados por La Loren. Ela era carne pura, sensualidade, luxúria, o que se podia entender de embriaguez e êxtase.

Mas eu tinha medo de Sophia Loren. Nas minhas conversas com amigos – quando trocávamos pensamentos libidinosos e fantasias – eu me recusava a referir-me a Sophia Loren. Pois eles imaginavam-se com ela, amando-a, deslumbrados. Seduzidos. Eu, de minha parte, afastava os pensamentos, “Vade Retro Satana”, amedrontado. O que aconteceria se Sophia Loren aparecesse para nós e me escolhesse para seu parceiro? Essa era a questão: se La Loren me escolhesse, eu sairia correndo. Pois era lúcida a certeza de minha fragilidade diante dela. Como se diz hoje: “muita areia para meu caminhãozinho.”

E, agora, eis aí: Sophia Loren completou 80 anos. E continua um deslumbramento de mulher, um desafio à natureza, a todas as leis humanas. Ela, aos 80 anos, é mais sedutora e desejável do que todas essas tranqueirinhas que se mostram por aí. Começo a entender o pensamento de Deus, quando Ele nos deslumbrou com tantas belezas. Na verdade, ele queria distrair-nos para não sermos seduzidos por Sophia Loren. Ela foi a mais tentadora criação do demônio. E ainda é. Bom dia.

1 comentário

  1. Beth Elias em 13/10/2014 às 23:26

    Beleza que dói !!!! O papa, dando a comunhão para ela, trocou a frase CORPO DE DIO
    para DIO QUE CORPO ……

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