Nação corinthiana, nação brasileira

Invasão torcedores CorinthiansEm política, um dos mais complexos conceitos é o de “nação”. O termo aparece, inicialmente, na Revolução Francesa. E, ao longo dos séculos, altera a sua significação, ora ampliando-a, ora minimizando-a. Há quem fale, por exemplo, em “nação européia”, da mesma forma como se chama de “nações africanas” a algumas tribos da África. De qualquer maneira, é uma ideia genérica de comunidade política, com valores próprios, língua, moeda, etc. Resulta, enfim, em “ideologia de um tipo de Estado”. E fiquemos por aqui, pois o conceito implica estudos aprofundadíssimos.

Os corintianos formaram – num sentido específico e menor – o que eles próprios chamaram de “nação corintiana”. E, na verdade, trata-se de um microcosmo de um agrupamento de pessoas vinculado por uma paixão irracional a um time de futebol, a um clube. A “Gaviões da Fiel”, por exemplo, carrega alguns dos princípios básicos dessa “nação”: a paixão, a confraria, a mesma linguagem, o hino, a bandeira, o comportamento, o “nacionalismo corintiano”. O único grande problema, no entanto, é que se vai tornando uma “nação” sem povo, revelando-se uma “nação de massa”. E massa quase sempre é turba.

Creio que, hoje, nada é mais fiel à realidade de um Brasil entregue à baderna, à impunidade, ao desrespeito às instituições, à barbaria, à incivilidade – do que parte dessa “nação corintiana”. Tal qual a “nação brasileira”, a corintiana – por parte de uma minoria, essa minoria que sempre acaba vencendo – se mostra desoladora, no sentido de sua incapacidade de coexistir pacificamente com o diferente, de conhecer um mínimo de civilidade, feito um bando de selvagens predadores, os estúpidos rebeldes sem causa.

Alguém, algum dia, haverá de estudar, com profundidade, a relação entre “a nação corintiana” e a “nação brasileira”, à procura de descobrir qual influenciou qual. Os bandidos do PCC aprenderam com os bandidos das gangues corintianas ou foram estas que ensinaram os meliantes das penitenciárias? Os “Black Blocs” inspiraram a barbárie desses selvagens que se dizem pertencer à “nação corintiana”, ou foram esses bárbaros que ensinaram os “Black Blocks”? Talvez, isso não importe tanto, pois o realmente importante é saber que a violência é contagiosa, uma praga que se espalha sem se saber por onde iniciou. O Brasil deixou-se contaminar por essa praga, não sabendo como reagir, muito mais preocupado – por alguns setores políticos e intelectuais – com os cassetetes da Polícia do que com as bombas e armas dos depredadores. Inibe-se a Polícia, estimula-se – pela impunidade – a bandidagem.

Ora, se as leis de Darwin valem, também, para uma análise sociológica e antropológica, no entendimento do “darwinismo social” que é próprio da sociedade – por que havemos de esquecer da 3ª. Lei de Newton, da Ação e da Reação? Resumindo, diz Newton: “A toda ação corresponde uma reação oposta e de igual intensidade.”  Portanto, toda violência gera outra violência oposta e de igual intensidade, ou ainda maior. O Brasil parece ter-se esquecido de que um dos atributos do Estado é ser, ele, o “detentor legal do monopólio da força”.  Isso não pode significar tirania, mas será deplorável se mostrar omissão: isso não significa autoritarismo, mas autoridade legal e legítima.

Tanto os “Black Blocks” como essa massa de torcedores corintianos precisam ser contidos, nem que seja através da força legítima do Estado. Pois o Estado é a “nação juridicamente constituída”. Se isso não significar nada, será preciso admitir que fomos derrotados pela barbárie, pelo vandalismo, pela bandidagem. Palavra de corintiano. E de brasileiro. Bom dia.

1 comentário

  1. Marisa Bueloni em 07/02/2014 às 22:58

    Cecílio, que retrato mais triste! Que “paralelo” mais constrangedor, não é? Pensar que nosso país está mesmo neste estado!… “Entregue à baderna, à impunidade…” – como você bem escreveu. Olha, é de doer essa possível relação entre a “nação corintiana” e a “nação brasileira”… Sim, e essa violência toda, de onde vem? A quem interessa?… “Há mais coisas entre…” .

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