“Nhô Quim”, sem tradução.

Quando piracicabano, há algumas décadas, ia a outras cidades, algumas perguntas eram-lhe inevitavelmente feitas: a cachaça de Piracicaba, o peixe e o XV, o nacionalmente conhecido “Nhô Quim”. Cadê o peixe? E, mesmo assim, a Rua do Porto é um dos cartões postais da cidade, passando a ser um corredor gastronômico que atrai visitantes de todo o Estado. A cachaça começa a se reabilitar, mas muito longe dos áureos tempos da Cavalinho e da Tatuzinho, marcadas celebradas e cantadas em todo o país. E há ainda quem se lembre: “Ai, Tatu, Tatuzinho, me abra a garrafa e me dá um pouquinho.”

No entanto, a maior das nossas grifes, a mais querida e, também, a mais representativa da alma popular sempre foi o XV de Novembro, uma das glórias do esporte paulista, em especial futebol e basquete. Quando, em 1949 – ao ser o primeiro clube interiorano a ingressar na Primeira Divisão, hoje Divisão Especial da FPF – chamou a atenção de todo o Brasil, o XV se tornava, pela inspiração de Thomas Mazoni, jornalista de A Gazeta Esportiva, o “Nhô Quim.” Era o caipira chegando à capital, com sua vara de pescar, com seu jeito brejeiro, anunciando uma cultura e um estilo de vida que se tornaram conhecidos como marca registrada de Piracicaba.

E lá estava o “Nhô Quim” ao lado dos grandes clubes, aos quais Mazoni também dedicara símbolos: o Mosqueteiro (Corinthians), o Papagaio (Palmeiras), o Velhinho (São Paulo), o Peixe(Santos), entre outros. Falar em “Nhô Quim” era falar em Piracicaba. E falar em Piracicaba era, imediatemente, remeter-se ao “Nhô Quim”. Portanto, a mais valiosa de nossas grifes, representação de uma Piracicaba simpática, querida, com cultura especialíssima assim reconhecida, capaz de conviver com grandes intelectuais e cientistas, empresários e damas refinadas, com pescadores ribeirinhos, cortadores de cana, na mistura de etnias que compõem a nossa gente.

Os últimos resultados do XV são animadores. Mas, por sua história e pelo que representa a Piracicaba, ainda é pouco o que se faz, muito pouco. Pois, houvesse uma visão de cidade mais ampla e generosa – em vez de apenas interesseira e voltada para grupos econômicos – lideranças lúcidas haveriam de perceber que prestigiar o XV, que dar-lhe força, que recuperar a sua projeção são, antes de mais nada, visões inteligentes agregando formidáveis valores culturais, turísticos, econômicos. Pois futebol, hoje, é, além de uma paixão nacional, uma poderosa e fortíssima indústria. Não à toa, grandes empresas investem no marketing futebolístico, pagando verdadeiras fortunas para a divulgação de seus nomes, a popularização deles.

O XV é, em especial, uma questão política, de alta política, com visão de futuro para Piracicaba. A marca “Nhô Quim” não tem preço. E, agora, ainda mais especialmente, antes que a devastação que nos ameaça venha a extinguir em definitivos princípios de um povo e valores ancestrais já consagrados. Ou alguém irá querer traduzir o nome “Nhô Quim” para o coreano? Aliás, quem viver verá: a empresa coreana ainda estará na camisa do XV. Seria, talvez, como um pedido de desculpas, por que não? Bom dia.

Deixe uma resposta