No mundo da televisão

Não estou entre os que se prendem muito tempo à televisão. E insisto: não se trata de preconceito, a questão é de gosto e de falta de hábito, apenas isso. Um bom jogo de futebol, o noticiário, algum programa especial, por aí. Assim, sou de uma ignorância total a respeito do que acontece no mundo da televisão.

Lembro-me e que, por gosto e prazer, assisti à novela “Gabriela”, sei lá há quantos anos. E, muito tempo depois, fiquei horrorizado comigo mesmo, envergonhado, quando, numa certa manhã, perguntei à mulher com quem eu estava casado: “quem matou a Odete Roiteman?” Naquele dia, dei-me conta de uma realidade terrível que estava começando a acontecer comigo: lá estava eu, à noite, de pijama e de chinelos, à frente de um televisor. Fiquei horrorizado, com medo, compreendi o perigo de um limite: ou eu ia ou ficava. Fui. E, pelo menos para mim, a televisão passou a ser um sinal amarelo: se se fica muito tempo diante dela é porque alguma coisa está errada, pois se começa a ver o mundo através dela e não mais através dos próprios olhos.

Televisão é mesmo que se receber o mundo em forma de recado. (Quantas seriam, por exemplo, as pessoas que estão amando apenas no amor das telenovelas, suspirando para ter heróis ou heroínas iguais?)

Lembro-me sempre de uma frase que, em sua época, tinha muito sucesso. Dizia assim: “Amar é os dois olharem na mesma direção.” E eu morria de rir, pois o que eu andava vendo era marido e mulher olharem, realmente, na mesma direção: a telinha da tevê.

Mas o que eu queria dizer, expondo o meu relacionamento com a televisão, é que, finalmente, vi um dos momentos mais lindos dessa máquina de fazer doido, como o Stanislaw Pontepreta, o Sérgio Porto, a chamava. Foi num noticiário ao fim da noite: e lá estavam, nos Estados Unidos, dois apresentadores de tevê. O rapaz, de repente, mandou às favas tudo e começou a fazer declaração de amor à sua colega, a outra apresentadora. Ela ficou feito boba, surpresa. Mas encantada. Então, ele tirou a aliança e, na frente do mundo todo que assistia ao programa, pediu-a em casamento. Ela aceitou, emocionada, e beijaram-se. Acho que foi o beijo mais bonito que vi na televisão. E acho também que foi uma das raríssimas vezes em que vi a televisão ser humana, descontraída, humana, imprevista e imprevisível.

O fantástico da vida está apenas nisso, nessa impossibilidade de poder prevê-la. Por isso, viver tem que ser um processo assumidamente caótico. Essa historia de muita estabilidade e segurança é para passarinho na gaiola. Viver é ter asas e voar. E, voando, ter um lugarzinho para retornar. Lar é para onde se volta, não onde se fica, continuo insistindo nisso. E bom dia.

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