Norma sempre foi nossa

picture (28)Não vejo qualquer novidade em se dar, a Norma Jean Dresselt Dedini, o título de Cidadã Piracicabana. Talvez, haja quem se refira a uma senhora idosa, octogenária, avó, tratando-a com formalidade como Sra. ou Dona Norma Dedini. Mas, na realidade, desde que chegou, ela foi e ainda é apenas Norma, Norma Dedini, a bela, simpática, afável, generosa jovem estadunidense que conquistou os piracicabanos ainda na década de 1950. Norma foi – chegando com os “anos dourados” – parte de um sonho vivido de olhos abertos, um sonho real, como que uma história da carochinha que acontecia em Piracicaba.

Lá estavam o cenário e os personagens: Armandinho, filho amado de Mário Dedini, passando parte de sua indomável juventude nos Estados Unidos. Ele era um dos mais cobiçado solteirões brasileiros, herdeiro de um império industrial. Armandinho – sabemo-lo, os que o conhecemos tão de perto – era um homem belíssimo, daqueles raros exemplares masculinos que magnetizam ambientes. Tal era a sua simplicidade que poucos haveriam de supor se tratasse de um dos jovens sucessores daquele efervescente Olimpo industrial brasileiro, que tinha, em Mário Dedini, um dos exponenciais deuses humanos. (Abro parêntese para contar: como nosso companheiro, nos Cursilhos de Cristandade, Armandinho fazia questão de prestar os serviços mais humildes: limpar banheiros, lavar panelas.)

Armandinho era, na verdade, irresistível. Digam-no as torcidas femininas de futebol que lotavam os estádios do Clube Atlético Piracicabano e do XV, na Rua Regente Feijó, para ver não o futebol, para assistir não ao jogo – mas para ver, olhar, admirar e cobiçar Armandinho Dedini, que nenhuma mulher é de ferro. Zagueiro atleticano, Armandinho não perdia a classe nem em suas entradas duras, de velho beque limpa área. E, após o sufoco do enfrentamento dos jogadores adversários, Armandinho – como um Clark Gable do futebol amador – tirava, do calção, um lenço de linho para enxugar o suor derramado…

Nos Estados Unidos, em 1950, lá estava a jovem professora de dança, beleza quase juvenil, vivaz, alegre e, segundo a lenda, fazendo horas extras como balconista numa casa comercial à que o destino levou Armandinho. Aconteceu. Casaram-se lá e, ao chegar ao Brasil, era uma Piracicaba curiosa, estarrecida, amuada, que aguardava a gringa que, enfim, laçara o potro indomado, o Armandinho de tantas conquistas e de tantas cobiças. Quem era, afinal de contas, a gringa cujo feitiço fez derreter o coração de Armandinho, o moço que representava toda uma Piracicaba vibrante, inovadora, atraída por um surto irresistível de desenvolvimento?

A gringa Norma Jean conquistou os piracicabanos acho que ao primeiro sorriso. Dela, poder-se-á dizer que “veio, sorriu, venceu.” Norma tornou-se nossa, de Piracicaba, desde os primeiros meses, cativando e conquistando por sua simplicidade, pela simpatia, pela vontade genuína e clara de ter vindo para ficar, pertencer a Piracicaba, de fazer desta terra uma terra natal do espírito. Norma conseguiu. E não se tornou apenas esposa de Armandinho Dedini, nem tão somente nora querida de Mário Dedini. Ela se impôs por si própria, por seus dons, por seu talento, por uma generosidade que transbordou especialmente aos mais humildes e carentes.

O mundo tem coisas incompreensíveis. Em 1927, Norma Jean Dresselt nascia nos Estados Unidos, no Estado de Nova York. Mas, em 1926, uma outra Norma Jean, de sobrenome Baker, nascera naquele mesmo país, em Los Angeles. A Norma Jean de Nova York tornou-se nossa, inteiramente caipira, de Piracicaba: Norma Jean Dresselt Dedini. A outra – também loura, esplêndida e bela – se tornou a Marilyn Monroe do mundo e de ninguém.

A Câmara Municipal entrega, à Sra. ou Dona Norma Jean Dresselt Dedini, o título de Cidadã Piracicabana. No coração dos piracicabanos, Norma é nossa. Fez-se piracicabana desde quando chegou. E bom dia.

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