Notícias e banalização

A banalização da vida humana dói. É como se estivesse perdida a dignidade dela. Nem mesmo a grande tragédia humana sensibiliza, como se as violências, por se tornarem parte do cotidiano, tivessem embotado a sensibilidade das pessoas. A televisão trouxe o mundo para dentro das casas, e é um mundo feito de misérias, sem mais qualquer beleza. A beleza não é notícia, nem a bondade ou a solidariedade. Antigamente, dizia-se que notícia era aquilo que fugia ao cotidiano, ao que se tinha como normal do dia-a-dia. Assim, notícia era, por exemplo, um assalto, crimes eram notícia. Ainda continuam sendo, e eu não entendo porquê, já que se tornaram parte do cotidiano.

Assim, notícia deveria ser o nascimento de uma criança, um gesto de fraternidade, qualquer louvor à vida. E, no entanto, isso não faz parte de qualquer noticiário.

O mundo, que os meios de comunicação escolheram, é feito de tantas misérias que elas se tornaram íntimas das pessoas. Daí, a banalização da vida e dos próprios seres humanos.

A própria morte perdeu o seu aspecto de surpresa, pois, mesmo sendo algo tão próprio da vida, a morte sempre causou surpresa, especialmente as repentinas ou violentas. Agora, não mais. São centenas, para não se falar de milhares, de mortes que aparecem todos os dias dentro de nossa própria casa, através da televisão. Acostumamo-nos com elas, o ser humano perdeu a importância.

Lembro que uma vez que um informativo da televisão anunciara outra explosão de terroristas, em Florença. Cinco pessoas haviam morrido, dezenas ficaram feridas, mas o destaque da notícia estava nas peças de arte que haviam sido destruídas. E, entre mortos pela explosão criminosa, havia um bebê de apenas nove meses…

Ora, por mais valiosa que seja uma obra de arte, pouca importância deveria ter se comparada com vidas que se perderam, com a indignação diante da morte de um bebê de tão poucos meses. E, no entanto, a ênfase que se deu à notícia estava nos abalos à galeria de arte. Ora, confesso que ando perplexo, cada vez mais perplexo. Não ando mais entendendo as coisas e, a cada dia que passa, mais compreendo, por outro lado, as pessoas que se afastaram, que se distanciaram do que não conseguem mais entender.

A vida é curiosa. Nasce-se e se cresce com valores de um tempo e, quando esse tempo passa, se torna difícil conviver com valores que nos são estranhos ou que não fazem parte daquilo que somos ou em que nos transformamos. As culturas nos marcam pelo resto da vida.

E, quando elas se perdem, é como se nós, também, nos perdêssemos um pouco. Acho que é por isso que há tantas pessoas caladas, silenciosas. Não tem mais o que dizer, pois não entendem.

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