O “Gésu Bambino” dos italianinhos

Gésu BambinoHá tantas belezas na vida e no mundo, tantas delicadezas e ternura que parece incrível sejam, elas, soterradas por esses maremotos de brutalidade que marcam os tempos atuais. Não há quem resista à beleza. Por isso, se a feiúra impera, o motivo deve estar na incapacidade das multidões sensíveis em mostrar e promover o belo. Ora, o belo é manifestação do bem e do verdadeiro, a simetria, o encontro da perfeição sensível e a expressiva. Não precisa ser definido. Basta existir para encantar.

Estamos, inegavelmente, diante de uma das maiores revoluções da história humana, produzida com o advento da internet. O mundo é outro, numa explosão ainda eclodindo, com sua imensa nuvem de pó que impede descortinar o que virá ou como será depois. Por enquanto, como em todas as revoluções, há a sensação de caos, de transformações indefinidas, de promiscuidade, de anomia. A impressão é que o lixo predomina, tanta a sordidez divulgada, tanta miséria acumulada. No entanto, a internet traz belezas que, antes dela, permaneciam ocultas da maioria das pessoas, sem falarmos nos benefícios e ganhos em todos os setores da vida humana.

Quase que diariamente, chegam-nos, pela internet, elementos surpreendentes de criatividade, de beleza, de generosidade, que espantam para longe a pornografia, o negrume produzido por almas brutalizadas. Uma dessas belezas, das tantas que também me chegam, foi-me encaminhado pela Marisa Bueloni, que dividiu o belo presente que recebeu. Trata-se de um comovedor pps originário da Itália, publicado pelo “Corriere della Sera”, baseado no livro de título originalíssimo, com idéias, visões e expressões infantis. A pergunta de uma criança originou o título: “Querido Jesus, a girafa você queria assim mesmo ou foi um acidente?”

Ora, sabido é que perguntas infantis compõem um tesouro nem sempre avaliado pelos adultos. Já se disse, aliás, que as crianças são melhores cientistas do que os adultos. Pois descobrem, inventam, encontram, construindo mundos de suas abstrações. O que prova, na realidade, que saber nem sempre tem o mesmo sentido do saber. Crianças sabem. E sabem no coração ou na limpeza d´alma que lhes permite entender a vida e o mundo com a originalidade da criação.

O assunto do livro, providencial para a época de Natal, é o “Gesù Bambino”, o Menino Jesus. O que as crianças pensam dele, o que desejam, o que pedem? São pérolas com a doçura da ingenuidade sábia, com a ternura de corações limpos. Segundo o jornal, Papai Noel perde feio para Jesus diante das crianças italianas. Um garoto diz: “Obrigado, Gesù, pelo irmãzinho que você me deu. Mas eu pedi um cachorrinho.” E um outro: “Querido Gesù. Você é invisível mesmo ou é só um truque?” Mais um: “Na escola, dizem que Thomas Edson inventou a luz. No catecismo, que foi você. Ele roubou a sua idéia?”

Para provar que a filosofia nasce com o pensamento do homem e que, desde criancinha, as indagações existenciais e vitais já nos acompanham, lá está o que um garotinho sugere para o Menino Jesus: “Por que você em vez de deixar que as pessoas morram, nascendo ouras, por que não fica com as que já existem?” E uma solução que poderia ser aplicada em todas as partes do mundo, em especial no Oriente, na eterna guerra entre palestinos e judeus. Diz o menino: “Para que Caim não matasse Abel, bastaria que cada um tivesse o seu quarto. Está dando certo comigo e meu irmãozinho.”

Finalmente, a reflexão infantil diante da oração que todos os cristãos proferem, o Pai Nosso: “ Querido Jesus, eu adoro o Pai Nosso. Você escreveu tudo de uma só vez ou foi apagando? Porque eu vou apagando o que escrevo.” Que nós, jornalistas, aprendamos a lição: escrevemos tudo de uma só vez, sem reler? E se relêssemos, para, talvez, rever conceitos?

Adultos, precisamos aprender mais com as crianças, em vez de hipnotizá-las com games, televisões, computadores. Deixemos que elas pensem. Pois, pensando, elas sabem produzir um “fiat lux”. Bom dia.

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