O glorioso XV e Dunga

XVSob o comando do Luiz Beltrame, o E.C.XV de Novembro – nosso glorioso e amado Nhô Quim – sobe, enfim, outro degrau no futebol paulista. Foi uma conquista formidável, especialmente em se considerando o lamentável histórico do clube nas últimas décadas, após a morte de Romeu Ítalo Rípoli. E que ninguém se engane ou tente mistificar a história: a morte de Rípoli levou o XV à enfermaria, pois a sua sucessão foi uma bofetada no rosto dos quinzistas, também de Piracicaba, do qual o Nhô Quim é patrimônio inalienável.

Por que não se cobram responsabilidades no esporte, principalmente no futebol? O que Eduardo Perry, sucessor de Rípoli, fez com o XV foi caso de Polícia. E a estupidez de se entregar, de bandeja, o Nhô Quim ao comando da TAM, no tempo do Comandante Rolim, mostrou-se esperteza de malandro bobo, também impunes os que o fizeram. Por isso, a vitória de Luiz Beltrame e de seus comandados merece aplauso e gratidão de Piracicaba. Mas, como toda festa – por mais bela e agradável seja – estamos na hora da ressaca, do depois e da pergunta sempre crucial: e agora?

O sonho dos piracicabanos é o retorno do XV à Divisão Especial que significaria, também, levar Piracicaba, novamente, aos holofotes esportivos do País. Até hoje, por onde se ande, basta falar-se em Nhô Quim, para se falar também em Piracicaba. É uma grife de valor inestimável. Logo, isso significa que XV e Piracicaba são de tal forma uma só unidade que parecem ligados por cordão umbilical. A resposta a pergunta, portanto, teria que ser apenas uma: agora é a vez de Piracicaba voltar a tratar o XV com o carinho, com a atenção, com os cuidados que merecem os filhos amados. Sem um “tour de force” consciente, decidida e pragmática, essa conquista quinzista poderá se transformar em outra decepção, talvez mortal.

O XV do passado é uma história admirável, mas não existe mais, da mesma forma como não existem os campeonatos de futebol com espírito amadorístico e apenas passional. O futebol se transformou numa poderosa indústria de entretenimento, multinacional, com investimentos, lucros e perdas monumentais. Não há mais lugar para amadorismo. A várzea, berço de craques – como bem lembrou, no Sesc, o campeão mundial Coutinho, nosso conterrâneo e eterno companheiro de Pelé – deu lugar às escolinhas de futebol, organizadas, pasteurizadas, pragmáticas. Em resumo: futebol se transformou num grande negócio. E grandes negócios exigem estruturas empresariais. Se Piracicaba não der, ao XV, essa estrutura e apoios logísticos profissionais, o XV continuará sendo, sempre, uma saudade, uma lembrança querida, o que seria uma perda também histórica e cultural.

Ao me referir ao Dunga, saudando o retorno do XV, estou tentando, na verdade, estabelecer o paralelo a partir do pragmatismo. É horroroso, para os amantes do futebol-arte e do futebol paixão, falar-se em pragmatismo, em esquemas rígidos, em pasteurizações. Todos gostaríamos de ver um ataque formado por Robinho, Neimar, Ganso, Ronaldinho Gaúcho, artistas e jograis da bola. Haveria de ser belo, esplêndido, mas nada garante que eles, com sua arte, trariam o título num campeonato mundial marcado por grandes interesses políticos, comerciais, econômicos, financeiros.

Os tempos são de ordem prática, infelizmente para os que conhecemos outras realidades mais belas. No futebol, também infelizmente, aconteceu o mesmo. Dunga é o homem ideal para esse pragmatismo chato, decepcionante, que busca apenas resultados. Mas futebol são resultados. O gol de Maradona, feito com a mão, foi indecente, imoral, antiesportivo, mas deu o título à Argentina. Se a seleção de Dunga vencer, mesmo jogando rudemente, será aplaudida. E esquecida depois. Assim, se conta essa nova história.

A seleção de Dunga – como exemplo vivo do utilitarismo de nossos tempos – deveria ser o modelo certo para os que sonhamos em levar o XV à Divisão Especial. Ou participamos dessa nova realidade tristemente materialista, ou nos deleitamos em acariciar lembranças eternas de quando Gatão, Idiarte, Pedro Cardoso e tantos outros, jogadores de coração amador, deixaram sangue, suor e lágrimas no Estádio da Rua Regente. Que, aliás, é outro exemplo: onde foi o templo do futebol quinzista – no chão molhado e tingido por lágrimas e sangue dos heróis – está um lucrativo, rico e asséptico supermercado. Que essa nova Piracicaba saiba o que fazer com e para o novo XV. Bom dia.

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