O meu Caeta

Tomaz_RipoliConsegui sair de uma longa hibernação, quase vencido e derrotado por grave enfermidade. Nos mesmos meses, Caetano Rípoli viveu a sua “via crucis”. Por telefone, chegamos a nos prometer que haveríamos de vencer o grande desafio do encontro com a finitude. Não pudemos e nem conseguimos – ainda que o quiséssemos – visitarmos um ao outro. Agora, ele se foi. Antes de mim. Sobrevivi, mas a morte do Caeta me deixou menor.

Sentei-me para escrever ainda antes do tempo. Meu retorno estava previsto para mais alguns dias, talvez uma ou duas semanas. Mas a morte do Caeta, do meu Caeta, me doeu tão fundo e dolorosamente que eu me sentiria um infame se não me despedisse dele. Não se tratava de uma simples ou forte amizade. Foi mais, muito mais do que isso. O Caeta e a Lúcia – bem como o velho Rípoli, a Belinha, a Beth – se tornaram parte de minha vida. Nunca busquei isso, mesmo porque o Rípoli-pai, o Romeu, era meu feroz adversário político. Foi o Caeta que nos uniu, que nos reuniu, ainda quando um adolescente.

Conheci o Caetano quando ele era pouco mais do que um menino. Ele e a Lúcia namoravam, estavam apaixonados. Ele nunca compreendera as desavenças do pai comigo, as minhas em relação ao velho Romeu. Mas nos uniu num momento difícil da vida de todos nós, quando o golpe militar cometia atrocidades e causava vítimas. Posso dizer que fui uma delas. Mas, também, que Romeu Ítalo Rípoli foi outra, mais vítima do que eu, pois ele apoiara o golpe e fora traído por militares. Eu fui perseguido apenas por ter sido oposição desde o início.

Amei o Caeta de todo o coração, a Lúcia sabe disso. Até hoje – ou especialmente agora, quando a Beth me informou de sua morte – não consigo definir o que essa pessoa maravilhosa – bonito, inteligente, ativo, culto, talentoso, professor e agrônomo internacionalmente respeitado – não consigo entender o que o Caeta se tornou em minha vida. Pois eu o amei como pai, como irmão, como amigo, como companheiro, parte de minha família, amado também por meus pais e meus irmãos.

Ele foi o meu Caeta. Que eu aplaudi, que repreendi, de quem discordei, com quem concordei, companheiro de lutas. Sinto, agora, quando escrevo essas palavras de dor, que Caetano Rípoli foi, para mim, um filho da alma. E a dor é de pai. Não queria retornar assim. Mas eu estaria num túmulo espiritual se não o fizesse. Eu precisava dizer adeus ao Caetano Rípoli, o meu Caeta. Ele, no infinito, sabe: sobrevivi, mas fiquei menor. Que pena, Caeta! Bom dia.

11 comentários

  1. Xyco Crivellari em 25/02/2013 às 10:21

    Realmente uma grande perda caro amigo Cecílio. Minhas sinceras condolências à família Rípoli. Piracicaba está enlutada pela perda de mais um de seus filhos.

  2. Sonia Maria Delfini em 25/02/2013 às 10:54

    Parabéns Cecílio pelo artigo.
    Caetano foi meu grande amigo e assim sendo, impossível não amar e admirar seu jeito alegre, descontraído, de bem com a vida…. Conheci sua alma de "criança rebelde" mas bondosa como alma de mãe.
    Também sentirei sua falta ……. Siga em paz Caetano……..

  3. Bertola Orlandi em 25/02/2013 às 11:42

    Palavras comoventes e que traduzem muito bem a figura ímpar do amigo Caetano. Parabéns Cecílio pela sua manifestação em relação ao nosso amigo.

  4. Antonio M. L. Toledo em 25/02/2013 às 17:03

    Parabéns pelo belo e sentido texto, Cecílio. E minhas sinceras condolências à família do Caetano Rípoli, pessoa inteligente, culta, que o conheci à época em que seu saudoso pai, Romeu, presidia o E.C. XV de Piracicaba. Descanse em paz, Caetano.

  5. José A. Borghesi em 25/02/2013 às 17:10

    Caro Cecilio
    ¨¨Amizade é um amor que nunca morre¨ (Mario Quintana)
    Alegre, irreverente, polemico, é muito dificil descrever do meu Amigo de infancia, sentirei saudades de seus beijos que tanto me envergonharam na juventude, sentirei saudades da sua teimosia, sentirei saudades do amigo que se foi sem me dar a oportunidadde do último adeus (infelismente eu não estava aqui)
    Como Você diz, da minha forma, do meu jeito eu também amei Caetano.
    Abraço.

  6. @BetthRipoli em 26/02/2013 às 15:32

    Grata , Cecilio, por suas belas palavras e seu esforço em estar com Caetano Ripoli antes da última morada. Creia , ele ja esta bem, descansando um pouco e em breve iniciará um novo plano em outras plagas, com uma nova missão! e novos chapéus, ja que deixou de levar os seus, que tanto o marcavam!! Sua irreverencia, contestação, bom humor,posicionamento, seus lindos olhos azuis , deixarão muita saudade! E ja, ja vai se encontrar com o velho Ripoli! Pode imaginar o que vão aprontar lá em cima!!!???E obrigado por ter nos chamado de SUA familia. Betth Ripoli

  7. Edson Diehl Ripoli em 26/02/2013 às 15:37

    Querido Cecílio, retomo o contato com seus maravilhosos textos num momento muito triste. Em 83, quando meu pai morreu, foi você que me aproximou do meu irmão Caetano. Assim como ele o havia aproximado do Romeu…. Agora tive mais sorte que você, consegui vê-lo duas vezes em dezembro, quando passei por Piracicaba a caminho de Madri, onde o Exército me destinou agora. Desejo que você se recupere plenamente e continue escrevendo obras primas como as "Ripolianas". Lembranças para seu filho e suas filhas, Patrícia em especial. Grande abraço!

  8. ESDEMIR DE GASPARI em 26/02/2013 às 18:14

    EDEMIR DE GASPARI.
    CECILIO;
    FOMOS COMPANHEIROS DE CLASSE,NO CIENTIFICO,NO PIRACICABANO,NO TEMPO DO PROFESSOR DEMOSTENES SANTOS CORREIA,,AQUELE QUE ,QUANDO NOS,NOS ARGUIA ,NUMA REAÇAO QUIMICA,E, NAO SABIAMOS ,A RESPOSTA ERA; (HUM HUM,ENTAO COSPE NE ,QUE AI DA UM VENENO ,HUM .
    CONHECI O CAETANO ,ATRAVEZ DO MEO FILHO CALAUDIO DA CANAFERTIL ,EM ARAÇATUBA. E ,
    REALMENTE,O CARINHO COM QUE O CAEATNO,O ABRAÇO ,FOI REALMENTE,DE UM SER ,SUPERIO.
    PADE ESTAR CERTO,QUE A TRAJETORIA,DO CAETANO,AQUI ,FOI UM BALSAMO, ATE LOGO
    CAETANO……………….

  9. Marco L. C. Ripoli em 26/02/2013 às 23:01

    Estimado CECÍLIO,
    Agradeço imensamente o carinho e admiração demonstrados em suas palavras. Era conhecido de muitas maneiras: Tomaz, ou Caetano, ou Kaita ou Ripoli como era chamado por todos, mas para mim simplesmente o meu PAI. Obrigado por tudo que nos ensinou, a minha MÃE meu amor eterno, por além de cuidar de todos esteve ao lado dele incansavelmente neste último 15 meses de tratamento, abdicando totalmente de si e de sua saúde para cuidar da dele.
    MÃE mais uma vez você nos orgulha.. Saiba que você fez tudo que foi possível para proporcionar um porto seguro ao PAI no momento que ele mais precisou. AMO meus pais!

  10. Luiz Alberto Hyppolitom em 27/02/2013 às 13:22

    Lindas e sinceras palavras; lembro-me do Caetano do TLC. Todos nós perdemos com siua viagem.

  11. Bianca Ripoli em 03/05/2013 às 15:03

    Não me canso de ler… Bj no coração. Que falta ele nos faz…

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