O quase esquecido “13 de maio”

EscravaturaO historiador piracicabano Noedy Monteiro escreveu, no jornal Tribuna Piracicabana, no último dia 13 de maio, lúcido artigo sobre a fértil presença negra também em nossa Piracicaba. Esta, aliás, ao tempo da vergonha da escravidão, foi a terceira cidade paulista em número de escravos, abaixo apenas de Campinas e de Bananal. Nada há de honroso nisso. Mas nossa história foi enriquecida com a cultura negra e sua participação na construção de uma nova sociedade.

Há algumas décadas, os festejos comemorativos à data eram intensos e comovedores. A centenária Sociedade Beneficente 13 de Maio – uma das mais antigas de Piracicaba – era o fulcro da unidade negra, na valorosa missão de recuperar uma história e de manter valores culturais. Os chamados “brancos” sentiam-se privilegiados se eram chamados a fazer parte das comemorações na sociedade. Lembro-me a alegria de Mário Dedini, de Pedro Morganti, de alguns outros, quando das solenidades dos aniversários da “Lei Áurea”. E mais honrado sentia-me eu, jovenzinho jornalista, como convidado do glorioso clube “13 de Maio”.

Não há como negar a existência de preconceitos. Pois estes se mostravam evidentes – ainda que com as amenas cores da cordialidade – entre os chamados “aristocratas”. No entanto, em minhas lembranças, retenho imagens generosas de relações fraternas entre negros e as famílias mais pobres, imigrantes, pessoas simples. Parecíamos, na verdade, uma fraternidade que, para os altos escalões sociais, era considerada como “cidadãos de segunda classe”. Éramos “negros à toa”, “italianos sujos”, “judeus sem vergonha”, “turcos ladrões”, “japoneses traidores”, “espanhóis perigosos”, “alemães nazistas”, “portugueses burros”, coisas assim.

O andar da carruagem, no entanto, alterou aquela realidade. Negros e imigrantes forjaram – e ainda forjam, com novas imigrações – uma Piracicaba múltipla, eclética, ainda conflituosa, mas em busca de sua síntese. Por isso, creio eu, a data da libertação dos escravos, o “13 de Maio”, deveria ser celebrada com mais ênfase, com mais vigor, por seu profundo significado que nem mesmo novas versões ou interpretações conseguem mudar. A história de D.Pedro II tem sido, cada vez mais seriamente, recuperada e valorizada. O desempenho da Princesa Isabel é de uma singularidade admirável. Não devemos nos esquecer de que – ao assinar a lei do fim da escravatura – o Barão de Cotegipe a advertiu: “A senhora acabou de redimir uma raça e perder o trono.”  Assim aconteceu.

Mais do que os negros, creio que sejam os chamados “brancos” os que mais deveriam reverenciar o “13 de Maio”. Afinal de contas, essa é a data que serve para expiar a culpa branca por páginas tão vergonhosas de nossa história. Bom dia.

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