O triste silêncio de Maia e Alvim

picture (30)Para mim, sempre foram dois homens respeitáveis, personalidades de minha admiração e respeito. Tenho-os, ainda, no meu panteão de amizades a que prezo, de referenciais humanos a que aponto como balizas. Gustavo Alvim e Almir Maia, já os cantei e proclamei como paradigmas, lideranças de quem se esperar e das quais esperar. Para mim, acompanhando-lhes a jornada, Almir Maia e Gustavo Alvim foram exemplos que, tendo construído em seu tempo, poderiam e deveriam ser modelos para o futuro. O mundo precisa de referenciais. Quanto a Ely Eser Barreto César, sempre fui reticente. Parece-me ter sido, sempre, uma bela teoria.

Estou – e preciso confessá-lo – com um profundo, amargurante medo de ter sido ou de estar sendo, ainda outra vez, enganado. Pois sou feito de enganos. Na verdade, mais do que me enganar, sou enganado. E a culpa não é de quem acredita, mas de quem mente, de quem falseia, de quem engana, de quem mascara. Acredito em sonhos, em ideais, em crenças, em bandeiras, em sentimentos, em esperanças, em construções. Por isso, encanto-me com homens e mulheres que professam boas novas, evangelhos anunciadores de contramãos, árvores com raízes, carvalhos que resistem a temporais, inconformistas e inconformados. Gustavo Alvim e Almir Maia, para mim, sempre foram esses paradigmas e balizas dignos de uma herança secular, essa que construiu e fez surgir a UNIMEP, essa que manteve inabalável o Colégio Piracicabano. Agora, no entanto, vivo o receio de que não mais o sejam, de que apenas tenham sido.

Ora, gigantes não perdem para anões, a menos que a história de Davi e Golias se repita, agora, como tragédia. Pois a história – na sabedoria de Marx – até mesmo pode se repetir, mas como tragédia. Almir Maia e Gustavo Alvim até poderiam perder um jogo, ser derrotados num campeonato com regras definidas. Mas, por tudo o que simbolizaram e representaram, não poderiam ter sido vencidos pela mediocridade, pelo oportunismo, pela malandragem. O silêncio deles é como se fossem bons cabritos, aqueles que morrem e não berram. E morrer sem berrar pode até mesmo ser um belo testemunho de martírio, de santificação. Mas não é digno da luta pela vida, da responsabilidade que líderes e comandantes têm diante de seu povo, de sua tribo, de sua comunidade, de seus representados.

Há alguns anos, discordei de Elias Boaventura quando ele disse ser, a UNIMEP, maior do que a Igreja Metodista. Sem conhecer, a fundo, essa estrutura eclesial, espantei-me com o que me pareceu herética rebeldia de Boaventura. Peço-lhe perdão. Ele tinha razão. Mais ainda: Elias Boaventura e Martha Watts são maiores do que a Igreja Metodista, vivendo a paixão de um Metodismo ancestral. Eles construíram na dimensão do sonho de Wesley. Muitos dos demais viveram e vivem conveniências religiosas, que pena!

Amargura-me, pois, o silêncio de Almir Maia e de Gustavo Alvim diante da furiosa destruição, do vandalismo moral e cultural provocado por uma seita que se apoderou da Igreja Metodista, tendo Davi Barros como seu sumo sacerdote. Mais até do que amargura: é silêncio que me angustia, pois ressoa como acomodação, comprometimento, cumplicidade e reverência a um grupo eclesial que não mais merece respeito tantas as ilegalidades e traições cometidas. Nenhum ser humano solidário pode admitir que alguém, diante da destruição e do incêndio, seja apenas espectador. Diante da tragédia, ser espectador é ser omisso. Tenho medo de que – ainda que mineiros, cautelosos, diplomáticos – Almir Maia e Gustavo Alvim estejam sendo omissos. E, portanto, culpados.

Só lhes quero dizer que não me enganei com eles. Se fui enganado, esse não é problema meu. É deles. O melancólico, o terrível, o ridículo, o patético estará em a História dizer que, em Piracicaba, Davi não venceu nenhum Golias. O sonho, às vezes, pode ser fantasia. E, então, dói. Estou com medo da dor que, novamente, me cutuca a alma: fui, novamente, enganado? É terrível: bons me enganam; bandidos não me enganam. Bom dia.

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