“Onde estás Senhor Deus?”

Deus, onde estás?

Não há qualquer justificativa – absolutamente nenhuma! –  para a carnificina que Israel está promovendo na Faixa de Gaza. Nem interessam mais discussões religiosas, políticas, geopolíticas, históricas para tentar explicar esse holocausto que Israel promove contra palestinos. Sim, holocausto e genocídio. Não há mais lugar ou tempo para continuarmos, hipocritamente, fazendo jogo de palavras ou tecendo teias de hipocrisia diplomáticas.

É preciso, no entanto, não confundirmos o povo judeu – o mais sofrido da História – com um governo israelense. Da mesma forma como não se pôde confundir o povo alemão com a crueldade de Hítler, não podemos e nem devemos responsabilizar o povo judeu pela ação genocida de seus governantes. Israel – por seus governantes – deu-se o direito de estar acima dos mais comezinhos princípios de direito e de convivência internacionais, revelando uma política guerreira de desumanidade que brada aos céus.

Os nazistas foram e ainda são execrados pela História devido à animalidade feroz de sua filosofia política. Israel já escreve horrenda e igual página de crueldades. E não haverá de se estranhar quando já se compara Bibi Netanyahu – o chefe dos matadores de crianças e de mulheres inocentes e indefesas – a Adolph Hitler. Netanyahu já está na galeria infame dos ditadores brutais. E o mundo não pode mais suportar que – em nome dos sofrimentos e das perseguições ao longo dos séculos – governos israelenses tenham-se dado verdadeiras “indulgências plenárias antecipadas”. O mundo continua solidário ao povo judeu, mas isso não exclui o senso de justiça perante o povo palestino, massacrado, confinado, expulso, ultrajado, submetido a guetos insuportáveis e a massacres repulsivos.

Não se trata, mais, de falar-se em povos. Trata-se de humanidade. Israel tem-se beneficiado do holocausto nazista para justificar sua arrogância, prepotência e desprezo às leis internacionais e de direitos humanos. Os Estados Unidos perdem o respeito – se ainda têm algum – diante de sua conivência, diante de sua covardia, de sua cumplicidade escandalosa aos crimes de Israel. Para distrair o mundo, Barack Obama protesta contra a queda de um avião em território ucraniano e a imprensa – como cãozinho amestrado, a serviço dos donos do mercado – propaga o medo de uma guerra mundial a partir da Ucrânia. Os franceses dizem “pour épater le bourgeoise”. E é o que se faz: para distrair, para acomodar, para tranqüilizar a burguesia.

Enquanto isso, milhares de crianças, mulheres, idosos, toda uma população civil está sendo dizimada por Israel, que se abastece, ainda mais, com armamentos estadunidenses. Este é um crime “lesa humanidade”, mas Israel e os grandes conglomerados econômicos não mais se importam com o humano. Um exemplo nojento – e desculpem-me pela palavra – é o Muro de Israel, o muro da separação, muro da vergonha ainda maior, da formação de um gueto, diante do qual o mundo, covardemente, se ajoelha. Ora, a derrubada do Muro de Berlim foi um dos momentos mais gloriosos da vitória da razão e da busca da paz. O mundo rejubilou-se. Mas acata, covardemente, o Muro de Israel.

Estamos vivendo um tempo em que a humanidade tem sido  enganada por verdadeiros gigolôs da História. Movimentos negros arrogam-se direitos devidos a seu passado de escravidão. As novas gerações nada têm a ver com isso. Movimentos feministas vivem dos malfeitos que lhes aconteceram no passado. Israel apega-se, ainda agora, ao Holocausto promovido por Hitler. Simbolicamente, pois, são gigolôs da História, vivendo e sobrevivendo às custas do que não mais existe. O passado ensina, sim. Mas a humanidade quer viver o seu agora!

O horror é infinito. E não se trata mais de judeus, palestinos, árabes, comunistas ou capitalistas, Ocidente ou Oriente. Trata-se da humanidade sendo espezinhada na carne e na alma. Deus parece estar dormindo. E, se realmente for assim, até Deus é cúmplice desse holocausto. Ah! Castro Alves, a voz que precisa voltar a ecoar, neste novo e sórdido “Navio Negreiro”, nestas ainda desesperadas “Vozes d’Africa”:

“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura, se é verdade,
Tanto horror perante os céus?( …)
Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?”

Mesmo assim, bom dia.

2 comentários

  1. Antonio Carlos Danelon - Totó em 05/08/2014 às 12:31

    Contundente, Cecílio. Concordo, porém se Deus tivesse alguma coisa com isso, essas coisas estariam acontecendo? Ele continua morrendo nas crianças, idosos e mulheres até que o bom senso volte a ditar as regras. Poderá nos perguntar se Ele criou alguém para matar. Ou se sempre que formos irresponsáveis deve intervir como entre filhos mimados. Cara que ocupa um governo e não sabe manter a paz não presta para nada. Guerra qualquer estúpido faz, bastam armas e um bom número de desequilibrados babando ódio.

  2. Chico França em 06/08/2014 às 14:22

    Cecílio, concordo; porém o Hamas e o Hizbollah também usam contra Israel táticas terroristas visando a população civil. E, como organizações terroristas, se escondem atrás dos civis palestinos, usando-os como escudos humanos, não enfrentando o exército israelense em campo de batalha aberto. Estas organizações não reconhecem o estado de Israel e querem “empurrar os judeus para o mar” e os israelenses não vão deixar que isso aconteça.
    Nada de novo naquela região onde os conflitos entre povos são perenes, desde tempos imemoriais, passando por relatos bíblicos e pela História Geral das (in)Civilizações.
    Entre árabes e judeus a briga é entre parentes, já que ambos os povos proclamam Abrãao como ancestral comum e, assim, a briga pelo espólio abraamico não terá fim.

Deixe uma resposta