Ora, plantem-se árvores
Em Copenhague, líderes de todo o mundo ainda discutem as ameaças que pesam sobre o Planeta. O foco deveria ser outro, pois o Planeta – basta ser deixado em paz – revigora-se e reconstrói-se por si mesmo. Basta ver o que acontece num único prédio, numa única rua, se abandonados e esquecidos pelo homem. Quando se pensa que tudo acabou, nascem, das ruínas, o mato e as plantas. A natureza sempre vencerá o homem. Por isso, em Copenhague, os líderes deveriam estabelecer o foco verdadeiro, real, o que mais interessa aos ditos seres pensantes: é a humanidade que está em vias de desaparecer. Somos nós. E isso vem de longe.
Certa vez, há alguns anos, passando pela rua Alferes José Caetano vi uma movimentação frenética liderada pelo então secretário do município Antõno Faganello, meu amigo Toninho Faganello, que poderia ter sido um dos mais lúcidos líderes políticos de Piracicaba. Havia serras, caminhões e o espetáculo que me pareceu dantesco: a Prefeitura cortava todas as árvores da rua, árvores que conhecíamos desde a mais tenra infância, quando Piracicaba era cidade de ruas saudáveis, embelezadas e refrigeradas por belas árvores. Segundo Faganello, as sibipirunas arrebentavam calçadas, ameaçavam residências e, portanto, precisavam ser cortadas. No lugar delas, afirmou-me ele, plantar-se-iam novas árvores, adequadas às ruas da cidade. Nunca aconteceu.
Quando, no final da administração de Adilson Maluf, se construiu, às pressas, aquele edifício horroroso do Centro Cívico, obras periféricas tornaram-se de responsabilidade da Cicat, já ela, desde tempos remotos. Jaime Pereira, então o chefe da empresa, também meu amigo, levando-me a conhecer a restauração do parque me assegurou: “A Cicat assumiu a responsabilidade de plantar mil árvores e irá fazê-lo.” Terminou a administração, sei lá quem veio depois da Cicat, as árvores que lá estão devem ser das primeiras que Jaime determinou fossem plantadas.
Pois bem. Piracicaba teve, na Prefeitura, alguns engenheiros agrônomos formados pela ESALQ. O primeiro deles, com administração revolucionária para a época, foi José Vizioli. Ele tentou muita coisa, mas foi curto o seu período administrativo, no início dos 1940, quando prefeitos ainda eram nomeados. Depois, vieram outros, eleitos pelo povo: João Herrmann Neto, Antônio Carlos Mendes Thame, Humberto de Campos. Ora, se há algo que nunca entendi – e dificilmente haverei de entender – é que Piracicaba não tenha conseguido envolver de maneira definitiva, oficial, plena, a ESALQ como planejadora e orientadora de nossos parques e jardins, de todos os cuidados ambientalistas, incluindo os estéticos. Pois, através da ESALQ, Piracicaba tem sido uma vitrina para o mundo. E é profundamente melancólico que o visitante ilustre – cientistas, autoridades internacionais, empresários do mundo todo – deparem com uma cidade com problemas precários e inacreditáveis de meio ambiente, de poluição ambiental, incluindo sonora e visual.
Nem que seja para implorar à ESALQ, nossos políticos deveriam fazê-lo, dando-lhe carta branca para planejar, projetar, orientar e determinar como deva ser feito. Pois não tem cabimento que Piracicaba, berço da “Luiz de Queiroz”, esteja à míngua, lutando por preservação, queixando-se de carências ambientais. Tínhamos que ser exemplos e modelo, mesmo porque, com toda a certeza, um visitante terá o direito de perguntar: “Como pode, com a ESALQ aqui, uma cidade tão deficiente em questões ambientais?”
Que Copenhague, pois, realize o seu trabalho em escala mundial, necessário e importante. Mas que a solução venha, também e especialmente, dos municípios. Por que não uma campanha maciça, forte, decidida para que cada família plante uma árvore, para que as ruas sejam, todas elas, arborizadas, desde que João Chaddad seja proibido de diminuir as calçadas para aumentar o leito carroçável para os carros? Por que não se estabelecer um código de honra com revendores de veículos e compradores de forma que, a cada automóvel ou motocicleta vendidos, se plantem árvores equivalentes ao aumento tóxico que haverá nas ruas?
O triste é que o Governador Serra fez a mais barulhenta campanha para combater a fumaça dos cigarros. E há silêncio em torno da poluição trágica de chaminés, de ônibus, de carros, caminhões e motos. Talvez, nas escolas, pudéssemos ensinar às crianças que, para viver a plenitude do ser humano, Confúcio sugeria algumas entre outras exigências: “ter um filho, plantar uma árvore, escrever um livro.” Bom dia.