Palmeiras e compaixão

Língua fala, língua paga. Nunca diga dessa água não bebo. Nada como um dia depois do outro. A melhor escola da vida é a própria vida. Vivendo se aprende. Essas e milhares de outras expressões da sabedoria popular passaram – quanto mais lá me vou pelos anos a dentro – a me orientar a vida. Só o tempo, mesmo, ensina realmente. Paixões antigas desaparecem, as novas são mais suaves e surgem sentimentos generosos de compreensão, de generosidade, de compaixão.

Jamais imaginei que, por um instante só da vida, eu iria torcer pelo Palmeiras, ser solidário à sua torcida, desejar o bem para esse que – para os corintianos (e vice-versa) – é mais do que adversário: inimigo insuportável, eterno, sem reconciliação. Enquanto nós – a gentalha corintiana – ficamos nas sarjetas da vida com orgulho e paixão, a porcada nos odeia com bagunça e agressividade mafiosa. Se há um traço animal no ser humano, ele se revela por inteiro – brutal, feroz, bárbaro – no confronto entre Corinthians e Palmeiras. Até na política. Corintiano digno desse nome jamais votou no José Serra, palmeirense insuportável. E suas derrotas explicam-se exatamente por isso, embora os analistas políticos sejam sofisticados demais para admiti-lo: sem a nação corintiana, nada vai para frente. Veja o sucesso do Lula. E até do Fernando Henrique, que fingiu ser corintiano, como se fosse possível haver corintiano em Higienópolis.

Mas, como já aprendi, a vida ensina. Pois, agora, estou sentindo verdadeira compaixão pelo sofrimento dos palmeirenses, pelo desespero da porcada, tão ameaçada de ser escorraçada da elite do futebol brasileiro. Meu velho coração se confrange diante de tanta dor, ao ver aquelas lágrimas e soluços, a dor estampada no rosto dos irmãos palmeirenses. Pobre gente. Como corintiano, já passei por isso e sofri humilhações inesquecíveis, gargalhadas humilhantes, até mesmo de um netinho meu que, por influência do pai, se tornou um infeliz palmeirense. Corintiano sofredor, conheço o sofrimento da humilhação, não me esqueço das nojentas gargalhadas da porcada diante de nossas desgraças anteriores. Cheguei a rogar pragas, a pedir aos céus que, aos palmeirenses, dessem o dobro de dor e de sofrimento. Mas eu era mais jovem e nada sábio.

Hoje, mais velho e com um pouquinho de sabedoria, quero estender aos palmeirenses os meus sentimentos de solidariedade e externar-lhes minha compaixão. No peito, estou com sensações de paz, de serenidade, desejando que o Olimpo dos deuses pagãos conforte e reconforte a porcada alviverde. Estou ao lado da torcida antes tão odiada, do clube tão detestado. A vida me ensinou que a vingança é um prato frio que se come pelas bordas. Torço, pois, para o Palmeiras escapar dessa sua via-crucis, conseguir sobreviver e ficar na elite do futebol brasileiro. A compaixão, própria da idade, me pacifica a alma.

E tem outra coisa, algo muito pessoal, quase egoísta: se o Palmeiras cair para a divisão inferior, quem terei, eu, para odiar em momentos de irreflexão? Afinal de contas, ninguém é de ferro, não é mesmo? Que o Palmeiras e palmeirenses tenham exatamente aquilo que merecem. Bom dia.

1 comentário

  1. Marisa Bueloni em 16/11/2012 às 21:28

    Graças a Deus – e a São Paulo – continuo tricolor apaixonada!
    "Salve o tricolor paulista/ amado clube brasileiro…"
    Abração da Marisa
    – E QUE O PALMEIRAS FIQUE ENTRE OS GRANDES!

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