Pedofilia e desordem sexual

Desordem sexualA pedofilia ganhou, de maneira especial, as manchetes de jornais quando também atingiu a Igreja Católica. Há alguns anos, já com o físico alquebrado, a lucidez do Papa João Paulo II deu, para o mundo, o tom da Igreja, apesar da inquietação do rebanho católico. E Sua Santidade, em poucas palavras, pôs em ordem uma casa atormentada por vendavais que escandalizaram o mundo, na revelação da prática da pedofilia entre os pastores. João Paulo II, em poucas palavras, falou o que bispos e cardeais deveriam ter falado desde quando o doloroso assunto veio à tona: “Não há lugar para pedófilos. Pedofilia é questão para a Justiça.” E apenas isso. Que serve para toda a humanidade.

No entanto, o tema preocupante não se esgotou, pois se transformou em doença mundial, que se espalha pela internet, que mobiliza quadrilhas, que faz girar fortunas naquilo que já se convencionou chamar de “turismo sexual”, onde menores de idade de ambos os sexos são instrumentalizados por desclassificados. É um fenômeno avassalador, que se vincula, também, às drogas, aos comércios ilícitos e ilegais, a grupos mafiosos que se tornaram tão poderosos quanto nações. A chamada liberação sexual, iniciada nos anos 60, convida a uma profunda reflexão sobre os seus efeitos, pois remeteu a civilização ocidental a tempos primitivos, tidos como bárbaros, de sexualidade liberada, quase sempre promíscua, sem embasamento espiritual. Ou, então, a formas de práticas sexuais que eram naturais entre os gregos e romanos, ao tempo do paganismo. Há que se refletir: essas práticas, ao longo da história da civilização, perderam a espontaneidade e se tornaram perversões, ou eram perversões que se aplacaram?

O fato é que a questão sexual ainda não está resolvida, apesar de todos os esforços de cientistas, moralistas, pensadores, religiosos. E, nas sociedades ditas cristãs, há hipocrisias e silêncios, tabus e medos que resultam em traumatismos e neuroses comprometedores à saúde social. Os jovens estão perplexos e desnorteados. Se, antes, tudo era proibido, existia muito contra o que se lutar. Agora, que tudo é permitido, perderam-se os referenciais, não há mais padrões, pais e filhos não conseguem estabelecer diálogos, pois Tânatos e Eros novamente voltam a se encontrar, a tragédia dos tempos. É a maldição da AIDS, exigindo prevenções e cuidados que, muitas vezes, não contam com a compreensão da própria Igreja Católica. Como, hoje, pais e mães de família poderiam permitir que seus filhos, vivendo numa sociedade erotizada e materializada, não se cuidassem com contraceptivos, com o uso de camisinha, no enfrentamento da morte que se esconde onde pulsa a vida?

Por trás de quase todas as perversões que abalam a sociedade, há, ainda, a imaturidade e a covardia para se olhar a sexualidade humana como algo também prazeroso e não, apenas, de ordem reprodutiva. A liberação descontrolada foi tão perniciosa quanto o fechamento da moral vitoriana. Abortos, pedofilia, necrofilia, homossexualismos às vezes equivocados, práticas estranhas ou pouco usuais, sado-masoquismos – tudo a que a humanidade assiste, entre assustada e perplexa, brotando da sexualidade do próprio ser humano, tudo, num simplismo proposital, pode se resumir na imaturidade de todas as gerações, igrejas e filosofias diante da ainda confusa questão sexual. É ironia trágica que, surgindo de uma relação sexual, o homem continue complicando o que, em sua essência, é dom divino.

As palavras de João Paulo II mantêm sua força: “pedofilia é questão para a Justiça”. Para todos os que a praticam. E deveria, também, se tornar questão social da mais alta relevância o descontrole sexual que, sem freios, produz tragédias sem fim, milhares de maternidades indesejadas, crimes e explorações mercantilistas. A questão está longe de ser resolvida. Mas, por enquanto, é um caos que interessa apenas ao mercado. Bom dia.

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