Políticos e ostentação

Nos países ocidentais e democráticos, tornaram-se um fenômeno mundial o cansaço e o desalento em relação à classe política. Os escândalos, abusos e desrespeitos se repetem em escala mundial. Mesmo a alvissareira eleição de Barack Obama, nos Estados Unidos, não foi e não tem sido suficiente para recuperar a credibilidade de políticos e de instituições políticas, o que se transforma numa ameaça às instituições e princípios democráticos. Alguma coisa muito grave, em termos de raízes, aconteceu e começou a solapar o que se acreditava ser uma conquista admirável do mundo ocidental, a democracia. A classe política desrespeitou o sagrado, que é o voto, e se torna responsável pela morte de muitas esperanças coletivas. Não nos esqueçamos: matar esperanças é crime sem perdão.

Por isso, não deixa de ser paradoxal que o Ocidente, mergulhado em crises sem fim e desalentado de suas instituições ditas democráticas, ouse levar, a outros povos, em especial aos orientais, valores democráticos que se esgarçaram e que, por isso mesmo, precisam ser redefinidos. A corrupção destruiu alicerces e, como se fosse uma gripe universal, se tornou pandêmica. O que acontece em Brasília é apenas um caos brasileiro, ponta de iceberg, pois não se chegou, ainda, às assembléias legislativas, câmaras municipais, governantes estaduais, prefeituras. No mundo, a corrupção política está instalada de forma virótica: Itália, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Argentina, México, apenas alguns deles.

Os povos começam a se rebelar, sabendo que cada obra superfaturada ou com comissões para governantes é um atentado ao povo, dinheiro que se furtou à educação, à saúde, à segurança. O Brasil, pela dimensão dos escândalos financeiros já anunciados, pode lamentavelmente se orgulhar de ser uma das maiores vacas leiteiras mundiais, com tetas inesgotáveis. Talvez, perca, apenas, para as grandes instituições financeiras internacionais que lesam povos e que, ainda, são mantidas e socorridas por governos.

Essa insatisfação popular já apresenta outra face, começando nos Estados Unidos, onde populares protestam e chegam a agredir proprietários de grandes carrões ou de mansões escandalosamente ostensivas. Não há que se condenar a riqueza obtida de forma honesta e decente, mas se tornou insuportável, em tempos de crises terríveis e de desemprego acelerado, ver o desfile provocativo de futilidades e de exibicionismo. Famílias de estirpe e verdadeiramente dignas da riqueza que amealharam ao longo da vida são, na realidade, humildes e simples, com consciência de pudor e de respeito. Ostentar luxo e vaidades é, hoje, provocar os sofridos, os injustiçados, pobres e miseráveis. Maria Antonieta é referencial histórico de quanto a ostentação e o desrespeito são responsáveis por tragédias sociais.

Privilégios absurdos de políticos e ostentação tola de pequenas multidões insensíveis começam a ser a gota d´água que fará o copo transbordar. É questão de tempo. Apenas não vê quem ignora a história humana. Bom dia.

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