Povo, opinião pública: o que é isso mesmo?

blog-wall-e

Para começo de conversa: passei invicto ao largo dessa ridícula campanha eleitoral. Não assisti a nenhum programa político   e não vi qualquer debate, nem mesmo o encerrado na 5ª. feira. Como levar a sério toda essa farsa democrática? E como acreditar em eleições nas quais as pesquisas sugerem que, a deputado federal, os mais votados devem ser Paulo Maluf e Tiririca?

Paulo Maluf pode nem mesmo tomar posse, impedido, em instância final, pela Justiça, o “candidato ficha suja”. Mas por que – diante da corrupção oficialmente reconhecida – tantos ainda votam nele? Continuaria valendo o “rouba mas faz”, do velho  Adhemar de Barros? Se ainda valer, de que adiantaram tantas lutas e tantas buscas de moralização da política?

Admitamos, porém, que Maluf, sendo eleito, tome posse. Teríamos, assim, novamente um político na principal Corte legislativa com mandato mutilado. Pois – passando a ser um legítimo representante do povo – Paulo Maluf continuaria impedido de representar esse mesmo povo em qualquer viagem ao exterior. Se o fizer, será imediatamente preso pela Interpol. O que pode haver de mais esdrúxulo, de mais desmoralizante?

Talvez – saiba-se lá –  a própria existência de povo seja uma abstração. Há mesmo um povo brasileiro? Ou somos grupos isolados, sociedades conflitantes, fragmentos de uma comunidade nacional? O conceito de povo, como entidade, tem, a partir dos romanos – da “republica romanorum” – importância fundamental perante o Estado, da qual é um dos pilares essenciais. E agora?

As chamadas democracias ocidentais – incluindo os próprios Estados Unidos – estão muito mais próximas de serem oligarquias,aristocracias,  autocracias, do que democracias verdadeiras. Nestas, atualmente, os povos estão sendo – de uma ou de outra maneira – instrumentalizados, cooptados. Houve participação do povo na escolha dos candidatos ou estes – pela vontade de grupos sociais e políticos verdadeiramente aristocráticos –  é que nos foram impostos? O direito ao voto – sem participação direta nos partidos políticos – é suficiente para o Brasil  considerar-se uma democracia verdadeira?

Ora, tem-se como certo que o resultado das eleições brasileiras refletem ou deveriam refletir a opinião majoritária do povo. Mas qual povo e qual opinião? Como pode alguém – e esqueçamos, por enquanto, a ideia de povo – ter uma opinião partidária se o mesmo partido, por exemplo, que apóia Dilma aqui, está apoiando Marina lá e Aécio acolá? Até quando aceitaremos a falsa ideia de uma “opinião pública”, essa abstração que já beira o ridículo? Não há apenas uma opinião pública, mas diversas. E elas nunca conseguem formar um somatório. Por que absurdo, então, falar-se em opinião pública, como um todo?

Na verdade, estamos diante da “opinião publicada”, de órgãos de comunicação os mais diversos. Quando se unem – formando um cartel de comunicação e de informação – passam a ter uma opinião única, a opinião publicada, que pretende alcançar um pensamento único. Aliás, não é esse o grande objetivo dos defensores do mundo globalizado, a instituição do pensamento único?

O voto individual há que ser fruto da consciência de cada eleitor. Mas como formar retamente essa consciência se a informação e o conhecimento – de qual a consciência se nutre – estão manipulados? Não se diga, pois, que o povo votará conforme sua consciência, com sua opinião própria. Será a votação conforme a manipulação do poder e segundo a opinião publicada. Logo… Deixemos para lá. Bom dia.

Deixe uma resposta