Professores ou babás?
A platéia era toda de professores, diretores de escolas. O assunto: jornalismo e educação. Não tive como recusar o convite para abordar o assunto, honrado pela distinção de lhes fazer uma palestra. No entanto, havia desolação dentro de mim. Não por pessimismo, que nunca me deixei abater por isso, ainda que não me considere um otimista idiota. Pois otimistas sem causa portam-se como tolos que esperam respostas vindas dos céus. Ou dos infernos.
Estavam, pois, lá, quase duas centenas de professores, jovens e maduros. Senti que, também neles, havia desolação. E uma pergunta ia-me angustiando interiormente: educar quem para quê; escrever o quê para quem? Pois as coisas e os tempos estão como ficam após furacões, terremotos, vendavais, tsunamis. A propósito: o pessoal de tevê anda referindo-se a tsunami como nome feminino. Não é. O horror das águas, tsunami, é masculino, nessa fúria irracional de machos incontroláveis.
Perguntei-me a mim mesmo se havia o que dizer, o que esperar, além da esperança. E já me havia respondido sem que o percebesse: se ainda há esperança, há tudo para ser feito. Quando a poeira baixar, quando os estrondos desaparecem, haverá luz no fim do túnel. E a saída está próxima. Pois, quando se chega ao fundo do poço, a única solução é sair dele. Por isso, apaixono-me pela imagem e significado de encruzilhada. Estar nela significa, num primeiro momento, não saber que direção tomar: para frente, um passo atrás, os lados? Encruzilhada, na vida, é tempo de pensar, de tomar decisões. E estamos nela, penso eu. Em tudo: encruzilhada na educação, encruzilhada na família, encruzilhada nas comunicações, encruzilhada moral.
Nos corredores e antes da palestra, uma professora dizia de humilhações, de desrespeitos vindos até mesmo de pais. Que, aliás, em meu entender, são os grandes e primeiros responsáveis pela hecatombe educacional. Se educação não começar em casa, por onde começará? Pois bem. A professora contava que, em reunião de pais, a fúria de alguns era apoplética. E o mesmo refrão: “Estou pagando para vocês educarem meus filhos, não para fazerem advertência para eles.” Eis o sinal dos tempos: a irresponsabilidade de pais que parecem não saber nem mesmo porque tiveram ou têm filhos. Será que sabem algo, além do instinto procriativo ou da vaidade em falar que tiveram filhos? O que há de mais fácil – e quase sempre agradável – do que fazer filhos? No depois, estão o desafio, o sentido da paternidade e da maternidade. Mas, agora, têm-se filhos e deixam para os avós cuidarem deles. E entregues à escola, como se entregam embrulhos a algum depósito de alguma coisa.
O fato é que a nobreza do magistério – uma das mais belas e dignas atividades humanas – se transformou num simples serviço de cuidar de crianças e adolescentes, enquanto os pais vão trabalhar ou se divertir. Ora, educação não se compra. Professores não podem ser tratados como se fossem babás. Por mim, eu inverteria totalmente a situação: colocaria os pais nas escolas, numa escola de pais. Para aprenderem tudo de novo. Especialmente, aprender que educação é um processo longo que começa em casa, a formação moral, espiritual, física e intelectual do ser humano. A escola, hoje, cuida de filhos alheios solitários e, quando consegue, ensina alguma coisa. Mas ensina o quê, para quem? Em minha opinião: pais e governos querem escolas voltadas para o mercado. Para isso, bastariam comerciantes, sem qualquer necessidade de professores. Criar gente para o mercado, um traficante de drogas tem mais experiência.
Ainda bem que existe a encruzilhada, lugar e tempo de parar e pensar. Bom dia.