Psicologia positiva

A propósito das crescentes preocupações em relação aos rumos da imprensa brasileira, acabei recordando-me de uma alocução que o então Papa João Paulo II fez aos jornalistas. Foi, profeticamente, há quase 30 anos. E Sua Santidade deu ênfase à “psicologia positiva”, que ele definia como uma simpatia pessoal que se deve ter por aquilo que de positivo acontece. Na verdade, não apenas jornalistas, mas cada homem em sua vida pessoal.

João Paulo II esclarecia que tal postura interior não significa uma tentativa de minimizar os aspectos negativos, mas, sim, de estimular as possibilidades construtivas que, para ele, são a espinha dorsal da história. Para João Paulo, havia um estreito relacionamento entre a Redenção e a vocação jornalística, acentuando a responsabilidade do cristão que se entrega ao exercício e à profissão dessa que, em meu entender, é uma empreitada dilacerante.

A alocução pontifícia, lembro-me bem, foi magnífica, destinada a servir como fonte inspiradora aos que, de uma ou outra maneira, mourejavam na sina do jornalismo sacrificado, algo que parece estar deixando de existir. O problema, porém, configurou-se exatamente no que Sua Santidade chamou de “psicologia positiva” pois, já naquele tempo, o jornalismo idealístico se sentia combalido pela descoberta da impotência diante de estruturas que roubavam até mesmo o sentimento da esperança. E, de minha parte, confesso – sei lá se cometendo alguma heresia teológica – acreditar que, em nossos tempos, a Esperança, das virtudes, está acima da própria Caridade, que Paulo Apóstolo disse ser a última a restar. Pois aí está: precisamos da Esperança até mesmo para acreditar que a Caridade vencerá.

Ao estabelecer o estreito vínculo entre Redenção e a vocação jornalística, penso que João Paulão II tentou despertar algo que os homens têm, mesmo escondido dentro de si: a angustiada ânsia pela construção de uma sociedade realmente pacífica e harmoniosa. É angústia não apenas de jornalistas, mas de todos os seres humanos decentes. O jornalismo, no entanto, é tão revelador das realidades humanas, tão conscientizador da abismal diferença entre ideal e real que instiga a tentação do ceticismo e do desencantamento entre os profissionais da imprensa, transformados, quando empregados, em verdadeiros robôs das empresas de comunicação.

Ora, não há como vislumbrar uma psicologia positiva diante da miséria, do abandono da infância, da miséria e da fome, da injustiça e da cruel sofisticação de um sistema instalado para destruir ou subjugar o espírito humano. Talvez, no entanto, essa psicologia positivo possa existir, diante de tudo isso, que provocar a indignação e o instinto de denunciar sempre, cada vez mais fortemente, a abjeto situação a que as estruturas submetem, universalmente, os povos. O positivo seria, pois, a decisão de maximizar a própria angústia.

Os tempos pioraram. Mas aquela alocução pontifícia permanece atual. Se empresas jornalísticas pensam em lucros cada vez maiores, esse calvário jornalístico deve permanecer vivo entre os que, de boa vontade e com idealismo, exercem essa atividade. Daí, então, compreender-se-ia a imagem da Redenção formulada por João Paulo II. Bom dia.

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