Quem já jogou futebol…

FutebolQuando o ser humano assumir-se como entidade lúdica – o homo ludens, em vez de apenas homo economicus – novos e melhores dias, certamente, surgirão para a humanidade. Ou retornarão. Pois, em todas as latitudes e longitudes, em todos os quadrantes, a paixão pelo jogo, pela competição, pela disputa, pela atividade lúdica arrebata multidões. E a bola – como a repetir o formato do próprio mundo – reina como fetiche, algo como uma energia divina que o ser humano capta e utiliza.

Convidado a escrever um livro sobre a trajetória esportiva da nossa Magic Paula, estrela do basquetebol, intrigou-me exatamente o que o povo via de magia em sua técnica, em suas habilidades. Paula parecia viver da e para a bola, numa convivência tão íntima que fetiche a transformara num ícone. A primeira pergunta que lhe fiz, com segundas e terceiras intenções: “Paula, o mundo é uma bola.” Ela não hesitou, entendendo a pergunta: “Sim. O mundo é uma bola e o meu mundo é uma bola.”

Estima-se, com a Copa do Mundo, que mais de um bilhão de pessoas assistirão, pela televisão, os jogos futebolísticos. E que, ao longo do campeonato, serão trinta bilhões de casas com televisores ligados, dia após dia, jogo após jogo. É, pois, um fascínio universal, da mesma forma como Olimpíadas encantam, paralisam e transformam o mundo e os povos, levando-nos a pausas misteriosas. Desgraçadamente, esse homo ludens ainda não está posto em sua verdadeira dimensão, a não ser a que interessa ao mercado, aos empreendimentos, às grandes organizações que manipulam e instrumentalizam o espetáculo. Quando o lúdico sobrepor-se ao apenas produtivo e mecanizado, haverá possibilidade de uma mais harmoniosa humanização.

Houve tempo em que intelectuais – e ainda há alguns que mantêm esse distanciamento – viam o futebol como algo menor e até mesmo desimportante na vida das pessoas. Muitos riam-se, zombeteiros: “A palhaçada de 22 homens correndo atrás de uma bola.” Ao mesmo tempo, porém, outros intelectuais, estudiosos, filósofos, pensadores, antropólogos encontravam, nos esportes e em especial no futebol, respostas importantes para as perguntas que fazemos em relação ao ser humano. Grandes escritores, notáveis cronistas escreveram apaixonadamente sobre o futebol e seria fastidioso elencá-los.

No entanto, não há necessidade de qualquer explicação desde que, pelo menos uma vez na vida, uma criança tenha jogado futebol, tenha vivido a aventura, o prazer, o desafio de ver uma aparentemente simples bola se transformar no centro do universo. Quem jogou futebol entende esse fascínio, esse poder imantador, apaixonante, como que uma droga inebriante que faz músculos, nervos, neurônios, instinto, inteligência, razão entrarem em sintonia. Atores e platéia entram em comunhão que, de repente, pode se transformar em verdadeiras batalhas. Futebol é isso: arte e técnica, jogo e disputa, como se, ao mesmo tempo, se realizasse um espetáculo suave de balé, uma estratégia de combate, um lance de xadrez, uma luta de boxe.

Quem jogou futebol entende essa paixão e a explosão de torcedores. Um gol, um simples gol representa um momento orgiástico, orgasmático tanto para o jogador que o marca, e os seus companheiros, como para a torcida que o celebra. Se é quase impossível explicar, a um cego de nascença, a cor do arco íris, é quase impossível esperar, de quem nunca jogou futebol, que entenda essa fascinação reveladora, na verdade, até mesmo do caráter das pessoas, de sua personalidade.

Há estudos que revelam o perfil de uma pessoa pela posição que ela ocupa no futebol. Um Lula seria o armador do time, o volante; uma Dilma, a xerifona, zagueira central; um Alckmin seria apenas um gandula; o José Serra, auxiliar da diretoria; Mercadante, o centro-avante; Aécio Neves, o lateral esquerdo, sempre à espreita e aparecendo quando precisa decidir; Martha Suplicy, a goleira, narcisista; e o ex-marido, Eduardo Suplicy, o bandeirinha . E Fernando Henrique, o cartola ou o dono da bola. Em Piracicaba, o Thame nem iria assistir à partida. O juiz? Talvez Collor, talvez Sarney. Bom dia.

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