Ranço gratuito ou má fé?

Os analistas das principais instituições financeiras mundiais reafirmaram a convicção de que, em 1013, o Brasil já será a quinta maior potência econômica do mundo. O desenvolvimento brasileiro é aplaudido e reconhecido em escala mundial. O reconhecimento a essa fase extraordinária de expansão – apesar de tantos males e mazelas ainda a ser superados, especialmente na moralidade política – o Brasil passou a ser levado a sério, admirado, respeitado e tido como exemplo em muitos setores. Longe vão os tempos em que o Marechal De Gaulle, todo poderoso presidente da França, disse que éramos um país que não podia ser levado a sério: “Brasil n´est pas sérieux.”

O presidente Lula tem recebido prêmios internacionais que devem causar inveja a povos que sofrem do complexo de inferioridade em que vivíamos até recentemente. Como estadista do ano, recebeu prêmios da Inglaterra, da Espanha, de outros países, das principais revistas e publicações do mundo. E, agora, na Suíça – onde se reúne a elite econômico-financeira mundial dos países – é ele, o presidente Lula, o escolhido pelo Fórum Econômico de Davos para receber o título de “Estadista Global”, a lhe ser entregue pelo ex-secretário geral da ONU, Khofi Annan. E são do criador do Fórum, o professor suíço Klaus Schwab, as considerações: “Lula mostrou um verdadeiro compromisso com todos os setores da sociedade. Esse compromisso foi mantido com um crescimento econômico integrador e justiça social. Lula é um modelo de estadista global.”

Ora, não acredito mais que, na imprensa brasileira e alguns setores privilegiados de nossa sociedade, exista o melancólico “complexo de vira-lata” de que nos falava Nelson Rodrigues, essa tendência ao negativismo, ao pior, ao medíocre. Acredito, hoje, em má fé e em ranços gratuitos de grupos que se deixam cegar por idiossincrasias pessoais ou por suas vinculações setoriais, em esferas intelectuais já esclerosadas ou comprometidas. Porque, até mesmo em futebol – área das paixões – a cegueira e o fanatismo não impedem que se reconheçam as qualidades do adversário quando ele joga melhor ou quando tem o melhor time. Um corintiano fanático é capaz de reconhecer as qualidades de times como os do Palmeiras ou do São Paulo, quando em fase aprimorada. Política pode ser também paixão. Mas não pode ser essa cegueira absoluta, feita de ranços, de irracionalidades e também de má fé na avaliação de fatos e da realidade.

A imprensa brasileira está toda ouriçada com receio do advento de alguma forma de censura. Isso não é verdade. O Brasil superou essa fase de violação das liberdades fundamentais, em especial a liberdade de pensamento e de expressão que fundamentam a imprensa. No entanto, o Brasil não pode mais suportar a má fé na análise passional da realidade brasileira, não pode e nem mais deve suportar a manipulação da informação, a sonegação da verdade, a malícia na instrumentalização do noticiário. Hoje, em certa imprensa, não se sabe mais se alguns articulistas são empregados dos jornais ou se estão na folha de pagamento de partidos políticos ou de grupos. E mais: não se sabe se algumas colunas estão sob a direção dos jornais ou sob a direção de outras instituições.

Se Lula comete um erro de português, a imprensa o crucifica; se há uma queda de energia, a imprensa vocifera. Enquanto isso, o rodoanel cai, São Paulo está vivendo sob águas, CPIs estaduais estão sendo ignoradas e a imprensa informa quase que em nota de rodapé ou finge ignorar. Há, sim, evidente, clara, translúcida má fé. E há, sim, um ranço gratuito que começa a corroer a antiga respeitabilidade de instituições e, também, de analistas.

Se Lula, acerta, deve-se, segundo os rançosos e maliciosos, ao que Fernando Henrique fez antes, sem fazerem referência ao fato altamente significativo de FHC estar entre as cinco personalidades mais rejeitadas pelo povo brasileiro. Ora, se é para se referir a quem iniciou mudanças, devemos chegar a D. João VI, que abriu os portos. As besteiras que assessores de José Serra falam são minimizadas. Quando Lula erra, é como se o mundo tivesse caído. Na questão de direitos humanos, para crucificar Lula, homens e instituições de má fé sonegam a informação principal: esse plano começou com Fernando Henrique, com as propostas básicas inalteráveis. Se Lula alcança mais de 80% de popularidade e de aprovação, é por ser populista. Enquanto isso, o mundo lhe rende homenagens como Estadista Global. Será que os críticos perderam também o pudor, além da honestidade analítica?

Ora, tenham a santa paciência. É ridículo, medíocre, empobrecedor, de má fé e desprezível negar a prova provada, tapar o sol com peneiras arrebentadas. É óbvio que o governo Lula tem problemas, mas os seus acertos e vitórias levam o Brasil a ser um dos mais respeitados países do mundo, nós que éramos vitimas de nossas próprias fraquezas. A grande questão se resume apenas numa constatação simples, óbvia, linear: a oposição não tem coragem de dizer que o melhor para o Brasil é continuar a orientação governamental que aí está, seja com Dilma, seja com Serra. Não se mexe em time que está ganhando. E os rançosos, os de má fé e a oposição medíocre sabem disso e têm medo. O que há de mais ridículo do que falar mal de Lula e adquirir o carrão último tipo após retornar de férias na Europa? O preconceito de classes é câncer que causa metastáse em quem o cultiva. Bom dia.

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