Reflexão e contemplação

É bom sair, escapar, mesmo que de repente ou por poucos dias. Mais do que bom, talvez seja necessário ainda que nem sempre tenhamos consciência disso.

Pode-se criar o seu próprio mundo mas a verdade é que nunca será possível mantê-lo inviolado. Para isso, haveria que se ter posições de tal forma radicais que se tornariam tolas. Pois, para se impedir a violação do mundo que construiu para si mesmo, a pessoa teria que se fechar definitivamente para o que está fora de seus muros. E isso não é apenas impossível, como seria tolo.

Confesso que fiz algumas escolhas e, entre elas, a principal, talvez tenha sido a do isolamento. Nem isso talvez, mas um recolhimento nesse tempo que costumo chamar de reflexão e de contemplação. Ando em busca de uma resposta: é preciso refletir, antes, para contemplar, ou há quase que se contemplar primeiro para, depois, refletir?

Venho acreditando que são processos que encaminham juntos ou apenas um só processo com veredas paralelas. Então, aconteceu-me que – mesmo isolado ou recolhido – eu me sentia sem espaço. O que acontecia fora dos meus muros era como que mais forte do que o silêncio de meu mundo pessoal.

Na verdade, os ruídos começavam a estar dentro de mim. A irritação, o cansaço, o excesso de suscetibilidades, a impressão de estar sendo roubado em algo que me era precioso demais ou, então, de estar perdendo-o. Ora, o que eu senti que vinha perdendo – ou que me vinha sendo roubado – era a tranqüilidade interior, a serenidade que se me tornou necessária para refletir e contemplar. Entendi, olhando para fora dos muros, que eu precisava sair do meu mundo, pois os ruídos estavam dentro de mim. Foi o que fiz. E não passou de uma simples caminhada, de um pequeno mundo para um outro ainda mais silencioso, retirado, isolado. E, então, a pouco e pouco, os ruídos foram escapando-se de mim, saindo de dentro para fora, pelos olhos, pelos ouvidos. Repentinamente, deixei de refletir e, então, passei a contemplar.

Sei lá eu se é possível explicar certas coisas ou se há qualquer importância em dizê-las. Mas sabem o que descobri? Que, no fundo, eu estava falando muito e ouvindo pouco, escrevendo demais e lendo de menos. Ou seja: eu estava tornando-me realista, essa realidade que, saltando os meus muros, entrara em meu pequeno mundo e me atingira. Nada há mais de perigoso ou terrível na vida de uma pessoa do que se tornar realista. Pois o realista é um conservador, aquele que aceita, que se adequa, que se adapta ao que os demais dizem ser o real ou a realidade.

Suponhamos o Brasil, a realidade brasileira: o realista acaba aceitando-a e, então, participando dela. O realista não muda as coisas, não acredita em sonhos e não sonha. Ruídos interiores estavam levando-me em direção à realidade. Precisei sair, escapar, como que fugir, para recuperar sons humanos harmoniosos, esses que apenas existem se saem de dentro.

Assim, posso retomar a busca de conseguir, algum dia, encontrar e conseguir escrever uma frase única que seja, em sol maior ou em lá menor. Bom dia.

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