Reza brava para o Brasil

Oferenda-para-o-futebol-do-BrasilSofri, ao lado de meu pai, quando o Brasil, em 1950, perdeu a Copa do mundo. De lá para cá, acompanhei tudo. E aprendi, também, que rezar não ajuda muito, embora torcedor – que se preze – jamais deixe de fazê-lo, misturando santos, feitiços, Deus único e muitos outros deuses. Ora, todos sabem que, se macumba valesse, o campeonato baiano terminaria empatado

A crença de que “Deus é brasileiro” foi acentuada, recentemente, pelo Papa Francisco que, com toda a sua humildade, admitiu: “Deus é brasileiro, mas o Papa é argentino.” Poderíamos, então, admitir que Deus vencerá o Papa, ajudando o Brasil. No entanto, o mistério é tão grande que, nunca, se poderá confiar integralmente nessas coisas. O corintiano – acostumado com dores, sofrimentos, amarguras e deliciosas maravilhas – sabe muito bem disso. É como ele vive a vida. Em rezas, macumbas, orações, pedidos, velas, ofertórios – no altar sagrado do futebol.

Pois bem. A Copa chegou. E as barrigas brasileiras – pelo menos, as dos brasileiros realmente amantes de sua pátria – esfriam. E os joelhos tremem. E o coração palpita mais forte, de ansiedade que chega a pulsar na garganta. Não se dorme sem sonhar, ora com pesadelos, ora som delícias lúdicas. E, quanto à alimentação, ou se deixa de comer ou, então, come-se compulsivamente. De minha parte, percebi – nos últimos dias – estar com um apetite desmesurado. Numa só noite, comi um prato de feijoada, um sanduíche de mortadela, uma sopa de grão de bico e, depois, um belo saco de pipoca, para encerrar – ainda insatisfeito – com uma formidável porção  de arroz doce. E não me satisfiz. O coração continuou galopando. E uma vontade imensa de chorar. Na realidade, trata-se de medo. De nada mais do que medo.

Já admiti que rezar, em futebol, não adianta. Mas e se adiantar, já que  – como nos ensinou Shakespeare – “há, entre o céu e a terra,  mais coisas do que  supõe nossa vã filosofia”? Pelo sim, pelo não – pois já vi quase tudo na vida, aquelas coisas do arco-da-velha – em Copa do Mundo volto-me aos céus, aos deuses, aos santos e anjos, inclusive aos diabinhos, para que estes prejudiquem os adversários.

Minha fórmula é simples, mas – como diria Caxias, lembram-se dele? – “quem for brasileiro me siga!” De minha parte, tenho uma pequena encruzilhada no jardim, feita de propósito para casos de necessidade. Em dia de jogo, uso os materiais indicados pelo infalível “Caldeirão da Bruxa” e, também, pelo insubstituível “O Tradicional Livro Negro de São Cipriano”. Obviamente, reforçados por São Jorge e pelos deuses do candomblé. Poupo o Budismo, por ser muito pacifista.

Na encruzilhada, colocam-se e usam-se os principais objetos: a vassoura, para varrer toda a área, mas sem tocar o solo; a varinha, para fazer invocações; o incensário, obviamente para se colocar incenso; um caldeirão de ferro, onde se fazem as transformações;  bola de cristal, para tentar entender os avisos; e um sino, para banir feitiços e espíritos negativos. Para reforçar, costumo colocar também um copo de cachaça, charuto e, se conseguir, um sapo morto.

Para completar – mas este é mais difícil – tem a mágica do sapo preto, para se gerar um diabinho e lançá-lo contra o adversário. É o seguinte: “matar um gato preto e, depois de morto, tirar-lhe os olhos e colocá-los dentro de um ovo de galinha preta, mas observando que cada olho deve ficar separado em cada ovo. Depois de feita esta operação, guardá-los em uma pilha de estrume de cavalo. É preciso que o estrume esteja bem quente para ali ser gerado.”

Isso deverá servir para vencermos os croatas, mesmo porque eles, croatas, foram os inventores dessa estupidez chamada gravata, que os homens, tolamente, usam dependuradas no pescoço. Veremos outras mandingas em cada jogo do Brasil. E que São Cipriano – esse, sim, que é poderoso em diabruras – proteja o Brasil, “zil, zil, zil.” Bom dia.

1 comentário

  1. Delza Frare Chamma em 26/06/2014 às 09:58

    Cecílio, amei sua encruzilhada do cantinho do jardim e sugiro a todos nós brasileiros que providenciemos a nossa, rapidamente, para o início da nova fase que se aproxima, onde nossa seleção, já que os deuses, com exceção dos meus queridos deuses gregos, são brasileiros, será a vitoriosa única nesta Copa incrível que está colorindo nosso País do orgulho verde-amarelo.

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