Salários de astros e de políticos.

A cada dia que passa, mais os políticos estão perdendo prestígio e a confiança popular, não apenas no Brasil, mas no mundo todo. O fracasso da política como serviço em prol do bem comum, sua aliança com grupos econômicos e interesses apenas materiais são alguns dos elementos que justificam esse desencanto e cansaço nas nações, sejam lá quais forem os regimes que as governam.

Por outro lado, “et pour cause”, o mundo do espetáculo – que é o mundo atual, ainda que começando a claudicar – trouxe novos e importantes protagonistas, cuja influência, prestígio e admiração suplantam o antigo respeito que se teve pela classe política. Pois lá se foram os tempos em que figuras como De Gaulle, Churchill, Kennedy, Juscelino e tantos outros eram admirados, respeitados como se fossem verdadeiros guias de seus povos. Hoje, são os astros e estrelas do mundo do entretenimento – atores e atrizes de cinema e televisão, atletas, jogadores de futebol – que empolgam o povo, que se tornam verdadeiros referenciais da juventude, seja para o bem, seja para o mal.

Ao mesmo tempo, há sentimentos de inveja e de ciúme, de incompreensão e de falsas indignações quanto à riqueza que as tais celebridades acumulam com suas atividades que, aliás, têm vida útil curta e rápida. Esses novos milionários que povoam todas as latitudes e longitudes estão, na verdade, sendo responsáveis por uma nova forma de distribuição de riquezas. Pois, quase todos eles, são homens e mulheres vindos dos estratos sociais mais humildes, de famílias pobres e necessitadas que, graças ao talento especial de seus filhos, emergem para uma nova vida, formando novas classes sociais, milhares e milhares de famílias que se fortalecem, que se ajudam, que alcançam os benefícios dessa nova modernidade.

Ora, quantos são os que, injustamente, se indignam com os salários milionários recebidos, por exemplo, por Ronaldo, Ronaldinho, Kaká, Adriano, Robinho, Neymar, apenas alguns, em se falando tão só de futebol? Não é justa essa indignação, pois se trata de uma atividade particular, de empresas e empresários do mundo do espetáculo que pagam regiamente a seus atores porque são fontes inesgotáveis de renda. Por isso, o que um Ronaldo ganha ou ganhou no futebol não pode ser comparado, como se faz habitualmente, com o salário de um professor de curso básico ou até mesmo de um professor universitário. São mundos diferentes, de uma economia que privilegia o lucro, num sistema capitalista de moralidade que não corresponde à moralidade do senso comum. Não nos esqueçamos: este é o mundo feito à imagem e semelhança de Hollywood, irreal mas palpável.

Quando se fala em salários, deveríamos, sim, questionar e discutir os salários de nossos profissionais em atividades-chave – como educação, saúde, segurança – em relação aos salários de políticos neste país, desde as câmaras de vereadores até o Congresso Nacional. Pois é o Estado que paga os políticos, da mesma forma como é o Estado que paga seus funcionários e servidores, além de legislar e fazer cumprir leis que regulamentam salários de outras profissões, incluindo o salário mínimo. Quais os critérios, qual o senso de justiça, qual o fundamento moral, por menos isso pareça ter importância na política mundial?

Não é o que Neymar ganha – aos 19 anos, jogando futebol e tornando-se milionário – que pode ser posto em discussão. Nem também o que o garoto Juciley – órfão, pobrezinho, um brasileiro até aqui à margem da história – passará a receber, tornando-se milionário também. Há que se discutir, sim, a política de salários e de privilégios de políticos e homens públicos. E é fácil. Basta cada um de nós refletir: qual vereador, no mercado de trabalho, receberia o salário que lhe é pago nas Câmaras Municipais se disputasse uma vaga de emprego? Por que se aposentam tão cedo? Por que tantos benefícios e privilégios? Por que tantas regalias, sem que se lhes exijam maiores compromissos e deveres?

Astros de cinema, de tevê, atletas, jogadores de futebol, profissionais do mundo do espetáculo e do entretenimento têm todo o direito de ganhar quanto lhes for oferecido e enquanto forem competentes em seu ofício. Já, em relação a políticos, não há ordem moral – a não ser a da moral política – que justifique tantos privilégios. E é essa a discussão que deveria ser posta pelos que invejam os ganhos das celebridades. Inveja, na verdade, há que se ter de políticos com mandatos populares, o mais generoso dos empregos deste país. Bom dia.

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