Saudades de Chiarini.

Em dezembro de 1972, o sonhador, que deve continuar sonhando na eternidade, via a realidade nos salões da Faculdade de Odontologia, ali na Rua D. Pedro I, instalando solenemente a Academia Piracicabana de Letras, com Flávio de Carvalho; com um apaixonado pela vida e poesia de Castro Alves, Normândio Meirelles, que declamava todos versos do autor de “Navio Negreiro” sem o recurso sequer de uma anotação; outros tantos apaixonados por autores e livros, jornalistas e poetas, oradores e beletristas, enfim, pessoas que sonhavam ou que ainda sonhavam – como eu, como Cecílio – com um povo lendo, entendendo e fazendo, da leitura, quase que a própria vida.

Era, naquele ainda não recessivo ano de 1.972, João Chiarini que se empolgava com as quase quinhentas pessoas que lotavam a festa da “sua” Academia. Bela e tranquila Academia de Letras, que embalou os sonhos de Chiarini, ajudado diretamente por Tita, mais os auxílios de Jóide (que se foi tão cedo) e de Joira, e fez muita gente viver e reviver as emoções de uma vida intelectual quase intensa.

Os amigos e admiradores de João rendem-lhe homenagens. Confesso que aceito a ideia de que ninguém é insubstituível, que alguém ocupa, paulatinamente, o lugar e as atividades de outro ou de outros. Mas, é verdade, o velho João Chiarini faz falta, tal o ânimo com que conduzia as coisas da cultura, em beneficio que fosse a uma só pessoa. Chiarini gostava da multidão, das sessões de gala lotadas, e fazia discursos inflamados, enchendo a boca nos termos mais clássicos que lhe vinham à mente. Ao mesmo tempo, parava por horas e horas falando do assunto de uma palestra a uma pessoa apenas. Era ele, Chiarini, tão somente ele que vivia assim há tantos anos, procurando realidade em seu sonho de Academia. Acabou realizando-o, e o fez como mestre e ninguém conseguiria imitá-lo. Não foi e não é insubstituível, mas – meu Deus! – como faz falta.

Pensei em tudo isso na noite em que o Cecílio lançava um novo livro e a Academia Piracicabana de Letras completava vinte anos, em 1992. Foi um jeito de, pelo menos, matar a saudade profunda que existia em mim e em todos que conheceram Chiarini bem de perto. Quanta alegria por tanto livros e livros, “para o povo pensar”, como escreveu o poeta das Américas, declamado por Normândio na sessão magna dos passados 20 anos da Academia.

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