Se é bom para eles…

Foi um militar e político brasileiro – ultraconservador líder da antiga UDN – que pronunciou uma frase definidora da submissão nacional à época. Juracy Magalhães, tão logo eclodiu o golpe militar em 1964, foi nomeado ministro das relações exteriores. O golpe tivera o apoio dos Estados Unidos. E Juracy Magalhães, em sua primeira viagem oficial, como ministro, àquele país, fez a declaração de amor e a profissão de fé: “Tudo o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.” Estava, assim, selada a dependência brasileira à política externa e à economia estadunidense.

A frase passou a servir como advertência às criaturas pensantes. Mesmo porque, ao final do governo de Getúlio Vargas, um famoso secretário de estado dos Estados Unidos – já não me recordo se Dean Acheson, se Foster Dulles – deixou, ao governo brasileiro, uma lição de ordem política que é verdadeira: “ Os países não têm amizade, mas interesses.” Nada mais prático e nada mais sintetizador do que seja a “real politik”.

Pois bem. Votei em Dilma Roussef, estou confiante no governo dela e entusiasmado com suas decisões firmes e decididas ao início de seu governo. Mas confesso estar preocupado. Não com ela, mas com os seus mais ferozes adversários e até mesmo detratores que, nos últimos dias, passaram a elogiá-la aberta e entusiasticamente. Ora, até dezembro passado, Dilma era ainda um poste, pau-mandado de Lula, subserviente ao ex-presidente, criatura de um criador. De repente, ela passa a ser extraordinária, independente, com personalidade e competência, nada mais tendo a ver com seu antecessor.

Vou ser breve. Quando ouço ou leio Arnaldo Jabor, e alguns outros jornalistas, elogiando ou criticando algo ou alguém, ponho-me em estado de alerta. Pois, pelo histórico deles, há sempre algum caroço debaixo do angu. Logo, se é ruim para eles, deve ser bom para muitos. E, se é bom para eles, será ruim para a maioria. Veja-se o Nelson Motta, por exemplo. Como um antigo menino mimado dos salões cariocas – berço, também, de Jabor – parece sentir-se ofendido com cheiro de povo, com suor de povo, esse mesmo suor que corre, ainda agora, do rosto e do corpo de Lula. Os veículos em que eles trabalham, onde prestam serviços, estão claramente com interesses que também nem sempre servem à nação. Portanto, se eles agridem – como fizeram com Dilma – é porque estão em defesa de interesses grupais. E, da mesma maneira, se aplaudem, há que se temer que os mesmos interesses estejam sendo atendidos.

Nem tudo que é bom para Jabor, Nelson Motta, jornalões e conglomerados de tevê é bom para o Brasil. Assim, fico com a pulga atrás da orelha, pois sinto, no ar, o cheiro de um farisaísmo sórdido: elogiando Dilma não estariam, eles, tentando afastá-la de Lula, criando um novo ídolo para tentar ofuscar o anterior? O nome disso, para alguns, é hipocrisia. Para outros, farisaismo interesseiro. E, para quem nariz de cheirar, tem cheiro de jogo sujo. Bom dia

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