Sem Lula, sem Ronaldo, sem graça.

É de encher a alma de orgulho e de civismo presenciar a caminhada auspiciosa desse novo Brasil. Apesar, ainda, de tantas mazelas e desigualdades, começamos a atingir o beiral dos países desenvolvidos, emergindo para um novo tempo e para novas realidades. Do Brasil, espera-se, em poucos anos, que responda por cerca de 40% dos alimentos de que o mundo necessita para sobreviver. E nenhum outro país tem tantos recursos naturais, tanta terra e tanta tecnologia como este que, finalmente, deixou de ser o país do futuro. A presidenta Dilma, pelo que já se percebe, parece ter sido, realmente, a governante talhada para essa transição e para o novo arranque desenvolvimentista.

Mas…E aí é que começam algumas angústias, da mesma forma como, de minha parte, me angustio com a história e a cultura de Piracicaba diante dessa nova onda migratória, desses novos choques culturais. Por mais que os neguem, existem. E o Brasil? Tenho receio de que continuemos pensando que o Brasil é São Paulo, um equívoco preocupante. São Paulo é um país dentro do continente chamado Brasil, essa colcha de retalhos de mil culturas, de mil espíritos e de uma só alma, feita de cordialidade, de generosidade, de picardia, de uma alegria que se não entende, pois parece interminável.

Alegria, eis o sentimento, a palavra, a virtude e o dom que atemorizam muitas pessoas. Alegria – que é a letícia, o gáudio – está entre os mais extraordinários sentimentos humanos. Por isso mesmo, causa medo, receios, já que pode construir e destruir, conforme o nível e o propósito dela. No livro “O nome da rosa”, Umberto Eco mostra, magistralmente, como o segredo da alegria era guardado a sete chaves pelos monges e teólogos. Conhecer a alegria era estar perto da subversão. E isso, hoje, acontece no mundo moderno, onde a alegria foi substituída confusamente pela euforia, pela histeria das massas atordoadas pelo pragmatismo. E se, na sua caminhada desenvolvimentista, o Brasil perder o dom precioso da alegria, esse brotar de júbilo da alma das pessoas e das coisas? A própria natureza brasileira esbanja alegria, em cores, perfumes, esplendores.

Mas, na verdade, o que estou querendo dizer é mais um sentimento pessoal, algo que tem choramingas de perda. Ora, o Brasil já não tem mais Lula para despertar alegria, criar confusões, provocar sentimentos conflitantes, personagem aguardado, todos os dias, com as suas novidades, boas ou ruins. Lula dava sabor ao desenvolvimento brasileiro que ele próprio estimulou de maneira soberba. Ele, queiram ou não os que com ele ainda implicam, o sal da terra nestes últimos anos. Agora, sem ele, há a sensaboria, a produção pragmática, como se fôssemos uma seleção de futebol dirigida pelo Dunga. Cadê a picardia, cadê o riso, cadê as gafes?

E, agora, é o Ronaldo que nos abandona, esse tipo de orfandade futebolística que deixa um vazio como se estivéssemos no fim de um tempo. Sem Ronaldo, o Brasil fica esquisito, como se parte da graça também se fosse com ele. E, para os corintianos – essa nação dentro da nação – não dá para ter quenturas no coração, entusiasmo no peito, esperança na alma. A graça, cadê?

Sem Lula, sem Ronaldo, sem graça, tudo isso é preocupante. Bom dia

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