Sinais do “grande medo”.
Há alguns anos, inventou-se o confronto entre duas forças que se apresentaram como antípodas: o medo e a esperança. Necessariamente, elas não precisam opor-se como se céus e infernos guerreassem entre si. O homem nasce com medo. E vive da esperança.
As cidades estão com medo. E, paradoxalmente, os bandidos, sem medo algum. Ora, se a lei, a ordem moral, não tiverem poder coercitivo, elas para nada servem. Lei sem penalidade é inútil. E fracassar no cumprimento dela e na imposição de punições é estimular derrocadas sociais. As nações desaparecem quando falece o direito. E as sociedades dissolvem-se quando os homens bons se recolhem por medo, vendo os homens maus agirem sem medo algum. Logo, o medo é essa força incontrolável que, individual ou coletivamente, pode levar à construção ou à destruição. Líderes de massa sabem canalizar o medo coletivo para o bem ou para o mal. Quando para o bem, o medo é construtor, força que impele à sobrevivência. É assim desde as cavernas. Para se proteger, o homem criou tecnologias rudimentares: a primeira sandália para proteger os pés, o couro do animal para agasalhar o corpo. E o fogo, a roda, o machado, a carriola. E, por medo e para impor medo, criou a bomba atômica.
De medo, sobrevive-se; de medo,morre-se. A Revolução Francesa nasceu do “Grande Medo”, a soma dos pequenos medos individuais, os medos do povo. Quando se perde a esperança, surge o medo. E, do mesmo, pode surgir nova esperança. Mas, quando se constrói sobre o medo, a construção se faz sobre ruínas. E, em nossas cidades, há sinais de que, perdida a confiança nas instituições, os medos individuais se amalgamam no terrível medo coletivo, capaz de destruir estruturas. Esses sinais de ruptura são evidentes quando se vêem homens de bem aprisionados em casa pela liberdade sem medo dos maus. Quem tiver ouvidos de ouvir perceberá a naturalidade com que já se fala em massificação de armas de fogo e, pior ainda, em criação de grupos armados que, quais Vigilantes, ocupem vácuos deixados pela autoridade.
São óbvios os sinais de inquietação. E é ela que antecede a desordem do “Grande Medo”. Quem poderá prever o que será de todos se, por perda da esperança coletiva, fizer-se a construção pelo medo? Bom dia.