Sobrando para vereadores

picture (6)O Brasil se tornou, hoje, uma das coqueluches do mundo, deixando de ser o “país do futuro” – decantado pelo escritor Stefan Zweig – para se aproximar do nível das nações mais desenvolvidas. Mesmo com a má vontade de grande parte da chamada grande imprensa e da falta de civismo de políticos e partidos conservadores, não há mais como negar, mesmo em meio à crise mundial, a ascensão brasileira.

Infelizmente, porém, há quem ainda não acredite nos sopros de novos tempos. Que são, na verdade, novos em tudo, após o cansaço de todas as injustiças e indignidades, após o menosprezo pela corrupção que parecia congênita na classe política brasileira. Há reações cada vez mais indignadas e viróticas, no sentido de se espalhar entre a população. A internet está abolindo a simples opinião dos veículos de comunicação para fortalecer, realmente, a opinião pública, que se transmite pela rede mundial, espalhando-se, contagiando.

Os escândalos em Brasília – na insuportável indecência que domina o Congresso Nacional, nos privilégios escandalosos de senadores e deputados – ultrapassaram todos os limites, ainda que sejam apenas os primeiros fios de uma meada que parece não ter fim. A classe política caiu no limbo, fenômeno que se torna universal, povos inteiros indignados com seus representantes, sentindo-se traídos, enganados e lesados. Nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França, o acinte da corrupção política levou ao fundo do poço a paciência dos cidadãos. Na verdade, é a democracia, em seu formato mais tradicional, que está sendo colocada em xeque, no entendimento de que o sistema de representação política está ultrapassado e tem que ser transformado.

Ora, a indignação humana que atinge Londres atinge também Charqueada, para exemplificarmos. A noção de dignidade e de retidão, de respeito e de honestidade é universal. O ser humano é, fundamentalmente, o mesmo em suas virtudes e defeitos, respeitadas as influências geográficas, históricas, de cultura e de civilização. O mau político no Japão ou nos Estados Unidos é o mesmo mau político de Piracicaba, guardadas todas as diferenças e proporções.

Em todo o Brasil, a repulsa pelos acontecimentos de Brasília – pela indignidade de deputados e de senadores, pela venda de consciências e acordos espúrios – tornou-se movimento que podemos dizer começou de cima para baixo, dando início a um processo com todos os sinais revolucionários, esse que começa de baixo para cima, do povo para a cúpula do poder. Piracicaba não está imune. Pelo contrário, Piracicaba tem sido um feudo político que se não altera pelo menos nos últimos 30 anos, com alternâncias que pouca diferença fazem. Quem são os políticos ainda no poder; quantos vereadores se tornaram como que profissionais do Legislativo? Sabe-se que o lobo, quando envelhece, pode perder o pelo, mas se aproxima em seus vícios. Em política, está provado que a experiência vale mais para a malandragem do que para o serviço ao povo.

Em Piracicaba, já começa a cobrança a vereadores. Esse movimento nacional de repúdio à classe política – que deixou, praticamente, de ter exceções ou tão poucas que quase nada significam – começa a voltar-se aos políticos piracicabanos. Isso é um sinal alvissareiro. De organização do povo, de tomada de consciência, de valorização dos próprios direitos. Vereadores estão na mira da população. Que se cuidem. E bom dia.

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